sábado, 11 de junho de 2016

Viktor Korchnoi - A morte de um campeão de xadrez!



Viktor Korchnoi (1931-2016) A morte de um campeão de xadrez
 

Dizem que saber perder é fundamental, mas nunca conheci um bom perdedor!


Assim, esse vice-campeão mundial de xadrez deixa a vida como um péssimo perdedor, e acho que deve ser assim....rsrsrs
 

Faleceu a pouco dias o enxadrista russo  Viktor Korchnoi. Participante e vencedor de diversas competições, ao desafiar Karpov ao título mundial perdeu por duas vezes (1978 e 1981). Cabe ressaltar que tais derrotas não ofuscaram o respeito e admiração da comunidade enxadrística por este grande campeão.

Korchnoi acusou diversas vezes a URSS de favorecer Karpov nos referidos encontros, inclusive com perseguições e manobras que favoreceriam a Karpov. Jamais aceitou tais derrotas diante do suposto favorecimento da equipe da URRS. Controvérsia a parte, além de vice-campeão mundial de xadrez, assombrou a todos com seu xadrez de alto nível jogando na "terceira idade". Essa figura simpática tornou-se, dessa forma, além de enxadrista, uma espécie de embaixador do xadrez e sensação mundial, representante da experiência.

Gosto do xadrez, mais que todos os outros jogos, por coisas como vemos retratada abaixo. Na foto, simplesmente dois gênios se encontrando - Dois prodígios e campeões. Neste âmbito, a universalidade e democratização do xadrez parece superar o tempo...


 
Como enxadrista, o estilo versátil de Korchnoi brindou o mundo com partidas combativas, mantendo um interessante equilíbrio entre o posicional e o tático.




 
Entre tantas belas partidas, escolhi uma contra outro grande campeão, o ex-campeão mundial de xadrez Tigran Petrosian. Esta partida remete à transição de um jogo posicional para uma posição complexa com sacrifício de qualidade (sacrifício de qualidade - torre por peça menor) por parte de Petrosian. Enquanto analiso esta partida e algumas outras, preparando vídeos a serem postados, segue esta para inicial apreciação de todos. Assim, ao terem um contato preliminar e analisarem a partida sozinhos, poderão entende-la melhor diante do vídeo que postarei, pois terão melhores condições de comentar, criticar, etc.
 
 
Kortschnoj,Viktor (2695) - Petrosian,Tigran V (2615) [D37]
 
Torneio de Candidatos qf4 Velden (5), 1980
 1.c4 e6 2.Nc3 d5 3.d4 Nf6 4.Nf3 Be7 5.Bf4 0–0 6.e3 b6 7.cxd5 exd5 8.Bd3 Bb7 9.h3 c5 10.0–0 Nbd7 11.Qe2 c4 12.Bc2 a6 13.Rad1 b5 14.a3 Re8 15.Ne5 Nf8 16.Bh2 Qb6 17.f3 a5 18.Kh1 b4 19.Na4 Qb5 20.Ra1 N6d7 21.Nxd7 Nxd7 22.e4 Nf8 23.Bg1 Bc6 24.Rfe1 Rab8 25.axb4 axb4 26.b3 c3 27.Bd3 Qb7 28.Ba6 Qd7 29.Bh2 dxe4 30.fxe4 Qxd4 31.Rad1 Qa7 32.Bxb8 Rxb8 33.Bc4 Be8 34.Rf1 Bg5 35.Rd5 Qe7 36.Nc5 g6 37.Qf2 Bh6 38.e5 Bg7 39.Ne4 Bxe5 40.Re1 Kg7 41.Nd6 Bxd6 42.Rxe7 Bxe7 43.Rd1 Bf6 44.Rf1 Nd7 45.g4 Rc8 46.Bb5 1–0

 

Filosofar na Amazônia: uma experiência dionisíaca - Parte I

Filosofar na Amazônia: uma experiência dionisíaca - Parte I
 
 
Para mim a imagem da Filosofia não é aquela do pensador de Rodin, mas sim a do garimpeiro!
O pensador pensa, mas onde ele está?
 
 
Já o garimpeiro, esse sim, ele está a batalhar o mundo!
 
 
A imagem do garimpeiro é uma das máscaras da região amazônica. Máscaras são locais simbólicos, são apreensões de sentido que criamos. Somos seres criadores, amantes das máscaras.
 
O garimpeiro, geralmente, é um homem que sai de uma terra amada em busca de sucesso, se arriscando em terras longínquas e inóspitas. Sucesso e riqueza, ele quer o que todos queremos...
 
É errada a ideia de considerar o garimpeiro mal intencionado. Muitas vezes ele não é pessoa ruim, ao contrário, pode ser uma pessoa determinada, inteligente e gentil. Simplesmente ele soube do potencial de um lugar, e vai para lá explorá-lo. Nós não exploramos os animais, a natureza e uns aos outros?
 
Mas o garimpeiro chega ao lugar, e se somos cidadãos do mundo, como pensavam os gregos helênicos, o esforço desse homem por chegar "ali", se instalar, se acostumar e ser feliz, parece facilitado diante do inusitado amor que encontra por uma terra tão nova.
 
O salto no escuro, a escolha intuitiva de se lançar a viver por uma decisão tão injustificada. O garimpeiro é feliz, pois preparado para a selva, preparado para o desconforto, nela, ao contrário, encontra o mais gozoso acolhimento. 
 
Então, de explorador a explorado, o garimpeiro fica por ali e é sugado por essa mina, pois ele e ela são um só quando, de uma outra metáfora, como aquela do desencontro de duas águas heterogêneas, há a explosão da beleza estética mais incrível que poderíamos ver: nada mais nada menos que o encontro das águas!
 
 
 
 
 
Ficar ali, ser sugado pelo lugar, e oscilar entre continuar a alcançar riquezas ou cuidar deste mesmo lugar a ser explorado. Esta é a controvérsia que circunda todo aquele que se lança ao mar de dúvidas e incertezas quando vai viver em um lugar novo.
Temos sempre a intenção de fazer do mundo nosso pátio, mas ao tentar brincar, usar este mundo, somos, por vezes, sugados e transformados por esta atmosfera tão favorável à felicidade.
 
Filosofar na Amazônia é algo como esta alusão ao garimpeiro e ao encontro das águas
 
Nós, filósofos preparados pela tradição grega/europeia, tão acostumados às leis e contradições do capital, nós chegamos na Amazônia tal qual o salto no escuro de todo aquele que começa a filosofar.
 
Hipocrisia a parte, temos sim, em um primeiro momento, intenção de fazer riqueza e retornar para um lugar que acreditávamos ser nosso. Mas... eis o tempo e seus ventos! A floresta é traiçoeira e nela tudo pode acontecer. Mas ela é assim, traiçoeira, para os desavisados, para os que nela não sabe viver.
 
O verdadeiro adjetivo da floresta é o acolhimento.
 
Filosofar na Amazônia não é fazer antropologia filosófica a partir de conceitos e vivências dos indígenas, pois nesta área, eles são um mundo e nós somos outro.
 
Filosofar na Amazônia é mais, nos parece, ser arrebatado por impulso criador e acolhedor. Ali se estabelece uma terceira categoria entre o ser/não ser, é mais como o encontro das águas, pois o ser é e continua sendo, e um não ser que não se oculta, toca o ser e fica por ali, ambos se acomodando tão bem que na disputa de um com o outro, um rio se faz e fica - "ali".
 
 
 
 
 
O encontro das águas não está para a lógica e não está posto pela dicotomia ser/não-ser, mas é um "ali".
 
Neste "ali", na coabitação de uma autonomia para além do ser e do não-ser, fazer mundo é a criação originária e  arrebatadora de fazer o "ali". O "ali" é um lugar de morada do controverso, de um impulso que faz mundo, faz sentido, e o estranho se acomoda tão bem que é impossível que entre o ser/não-ser, não aceitemos o "ali".
 
Local de morada, local de acolhimento, sua esfera de sentido leva o grego/europeu a filosofar. Filosofando, ele está a pensar coisas aparentemente banais, pelo menos segundo os critérios que norteiam nossas carreiras acadêmicas.
 
 Que é o boto? Que golfinho é esse que se faz criança e brinca com o mundo e chama o usurpador a dançar com ele nas águas da Amazônia?
 
 
 
 
 
Ora, filosofar para além do salto alto é possível!!!
 
Entre teses de doutorado e uma infinidade de conceitos remastigados, praia nossa tão amada e confortável, ao filosofar na Amazônia somos assim, sugados para o "ali".
 
Mas efetivamente, aceitemos o fato que o filosofar confortável e o encontro com o "ali" é aceitável, e, assim, a dicotomia se desfaz tão logo pensemos que o filosofar é universal.
 
A filosofia vivida sob a esfera da Amazônia é pensada por nós como aquela que remete ao "ali".
 
O "ali" é tomado com um acolhimento do explorador sendo vivido pelo encontro das águas. Entre o ser/não-ser, há, pois, o "ali".
 
As categorias filosóficas clássicas clamam pela ordem e clareza das razões. Somos filhos do método, Descartes é nosso pai. Mas como bons filhos, seguimos o preceito de Descartes e nos lançamos ao mundo, como viajantes em busca por quebrar nossos preconceitos.
 

Mas isso é estranho, pois quando saímos em viagem queremos algo, ainda que não saibamos bem o que queremos.
 
Diante de um mundo pós-cartesiano, se pensamos o mundo como nosso lugar de consciência, na Amazônia não é por esta lógica que nos mantemos no "ali". Pensar o capital, pensar a lógica do mundo capitalista, pensar em como não destruir a natureza por nossas regras de convivência tão marcadas pela ganância e pelo luxo, este não é um problema da Amazônia, estes são problemas nossos!
 
Na floresta, nós que estamos no meio dela e só a conhecemos pelo acolhimento de sua esfera social, ela é uma inspiração, pois quem realmente a vive são os indígenas originários e os ribeirinhos, que "ali" estão e nos recebem bem, embora saibam que temos um âmbito de garimpo. Mas o garimpo não é ruim, ou totalmente ruim, como dito anteriormente, o garimpeiro quer o que todos almejam, a riqueza. Mas neste encontro com as águas do rio branco, na figura singular do garimpeiro, nós somos ele e bebemos esta água e encontramos um outro acolhimento.
 
Terra de acolhimento, local dionisíaco. Certamente deus baco, se era grego não sei, mas certamente está ali na Amazônia brincando de fazer "alis". A embriaguez está tão presente que basta uma pisada na floresta, ou um passeio turístico pelas águas do rio, que este sujeito/cognoscente não sabe de nada, se é que sabia alguma coisa!
 
A destruição da floresta, tão defendida por nós ocidentais que queremos o dinheiro e o luxo, ela é permitida justamente porque há tanto acolhimento que ela se entrega inteira para nós! Sua defesa é simplesmente seu acolhimento, e seu acolhimento é justamente sua fraqueza, pois chegamos nela e podemos fazer o que queremos com ela. E podemos?
 
Há imagens que se expõem mas não se explicam. É, pois, no desencontro tão agradável e acolhedor do encontro das águas, por exemplo, que temos na floresta esta singular abertura de "alis". O lugar comum de um pertencimento singular, tal que a noção de abertura de sentido/mundo não pode ser aquela tão bem explicitada por Heidegger. O "dasein", aqui na Amazônia, não abre mundo, pois, ao chegar e estar defronte ao "ali", ele é subsumido.
 
Filosofar na Amazônia é algo assim, é como ler Descartes, Marx ou Heidegger e pensar sob outras esferas, sentindo, pois, que o filosofar é possível para além da cidade.
 
Aristóteles estava... certamente ele estava errado!
 
Filosofar na floresta é possível, ela está aqui, mas nós estamos nela?
 
Autor: Edgard Vinícius Cacho Zanette