sábado, 6 de agosto de 2016

O escritor, sua obra, o mundo


Quando arrumamos nossas coisas, em casa, não somente dispomos elas de um modo funcional

Nós também criamos significados, afeições, e, por vezes, 
fazemos destas coisas algo mais importante que os amigos e que a nossa família

Até existem pessoas que se apaixonam por objetos inanimados!

Somos seres significativos...

A praticidade, a imediatez do dinheiro, toda a correria do dia a dia, 
estas coisas nos desvia desta posição singular de manifestarmos nossas ideias e opiniões no mundo

De todo modo, o escritor é um sujeito solitário,
 pois, como entender alguém que escreve para não ganhar dinheiro, 
pensa para nada conquistar, vive, sem ter como viver, 
e o mundo, na maior parte das vezes, 
o despreza?

Temos que observar que os grandes escritores são teimosos...

Em figuras como Kafka, Dostoiévski, Machado de Assis, etc., é notória a determinação radical de contrariar a mão mercantilista da história

O mundo, neste caso, aparece ao escritor como um sujeito limite, 
pois impõe exigências que, caso não sejam atendidas, 
costumam punir com a miséria, 
o desprezo, 
ou, 
mesmo, 
com a tortura psicológica

Mas nem tudo é apocalíptico

Não há receita para o sucesso, e mesmo aqueles que aceitam escrever "à la Paulo Coelho",
também estes costumam não alcançar a tão cobiçada fama

O maior erro de um escritor, assim como de um filósofo, é querer ser reconhecido

A verdadeira felicidade, para o escritor e para o filósofo, é gozar o papel de codjuvante

Nunca sabemos, 
não temos como saber, se seremos protagonistas

O dono dos papéis é o mundo, e, este, 
é sempre uma incógnita

Para o escritor, sua obra é fechada, no sentido de não ter regras no mundo que garantam o merecido reconhecimento dos bons

Nada mais elitista que se achar "bom"!

Nietzsche, sob este aspecto, soube muito bem mostrar que o sucesso dos medíocres é sinônimo da cultura de massas

Mas, contrariando Nietzsche, 
penso que nem tudo, é problemático na cultura de massas

Hoje, mais que nunca, temos centenas, talvez milhares de grandes escritores produzindo coisas de qualidade no mundo

Também quanto ao acesso aos textos, hoje temos uma situação dramática de sermos incapazes de ler um por cento do gostaríamos

Entre tanta coisa de qualidade sendo produzida, o  problema é que tais obras acabam sendo veladas pelos textos de autoajuda, ou de autoajuda religiosa, as quais dominaram o planeta

De todo modo, para aqueles que gostam de ler e escrever, 
sugiro que escrevam para si mesmos,
e suas obras, se não alcançarem reconhecimento no mundo, 
nada mais normal!

A vida é assim: o não sentido do que deve ser como é...