Acordou confuso, misturando tudo
preocupado, sua cabeça não separava nada
Tudo parecia um só, e uma mesma coisa era tudo
Aturdido neste mosaico de blocos de imagens confusas e distorcidas
saltou da cama e ainda não sabia de nada
Pouco depois, ao se levantar, tomou um copo de água e recordou o sonho passado
Lembrava confusamente dos dias em que estava cercado de amigos, que bebiam e davam risadas
Não pensavam como hoje, simplesmente, pensavam....
Estes amigos, que não eram verdadeiros amigos, sempre estavam à disposição para fazer algo que não importava
Viviam como aposentados mas eram jovens, sabiam viver
Se importar, se preocupar, essa é a vida que transgride o razoável
A filosofia do não fazer, essa era a vida daqueles que pensavam em como não fazer, como não ganhar, como não ter sucesso
A felicidade pelo não ter
O prazer em não dever, em não ter que ter
Não tanto quanto cínicos, muito menos que estóicos, mas não viviam o prazer como epicuristas
Eram, simplesmente, despreocupados...
Pensar coisas tão longínquas, mas como lhe seduziu receber esses pensamentos...
Depois, ainda, sentado na cama, passou alguns minutos, ou horas
Essas recordações lhe impediram de retomar o fio da meada de sua vida tão normal
Preferiu ficar um pouco mais, ali...
Não sabia bem o que fazia, mas não importava
Pensando nesta mistura entre passado e presente, sua angústia com as banalidades do agora sumira completamente
Lhe assustou perceber que suas ideias, daqueles tempos de não fazer nada, antes embaralhadas, eram suaves, pois não havia pressa
Simplesmente ele e seus falsos amigos estavam ali, conversavam, bebiam, pensavam pouco, mas era tão bom...
Mas fantasiar o passado parece tão despropositado quanto fingir que o futuro será melhor
Com a cabeça confusa, ainda tentando se levantar, percebeu um mosaico de imagens distorcidas
Percebeu que tudo isso poderia nada mais ser que a construção imaginária de um outro
Nós, poderosos! porém, marionetes!
O mundo, um vídeo-game, em que alguém brinca de nos jogar
Lembrou de Descartes...
Mas cansou de lembrar
Preferiu organizar essa mistura tão bizarra que aparece como a junção de ilusão com esperança
Simplesmente queria a paz de uma explicação das coisas que não fosse confusa, queria a esperança da lucidez
Mas a esperança, ela ilude...
O ceticismo, assombra,
então, o que sobra?
O mosaico...