terça-feira, 26 de julho de 2016

Mosaico



Acordou confuso, misturando tudo

preocupado, sua cabeça não separava nada

Tudo parecia um só, e uma mesma coisa era tudo

Aturdido neste mosaico de blocos de imagens confusas e distorcidas

saltou da cama e ainda não sabia de nada

Pouco depois, ao se levantar, tomou um copo de água e recordou o sonho passado

Lembrava confusamente dos dias em que estava cercado de amigos, que bebiam e davam risadas

Não pensavam como hoje, simplesmente, pensavam....

Estes amigos, que não eram verdadeiros amigos, sempre estavam à disposição para fazer algo que não importava

Viviam como aposentados mas eram jovens, sabiam viver

Se importar, se preocupar, essa é a vida que transgride o razoável

A filosofia do não fazer, essa era a vida daqueles que pensavam em como não fazer, como não ganhar, como não ter sucesso

A felicidade pelo não ter

O prazer em não dever, em não ter que ter

Não tanto quanto cínicos, muito menos que estóicos, mas não viviam o prazer como epicuristas

Eram, simplesmente, despreocupados...

Pensar coisas tão longínquas, mas como lhe seduziu receber esses pensamentos...

Depois, ainda, sentado na cama, passou alguns minutos, ou horas

Essas recordações lhe impediram de retomar o fio da meada de sua vida tão normal

Preferiu ficar um pouco mais, ali...

Não sabia bem o que fazia, mas não importava

Pensando nesta mistura entre passado e presente, sua angústia com as banalidades do agora sumira completamente

Lhe assustou perceber que suas ideias, daqueles tempos de não fazer nada, antes embaralhadas, eram suaves, pois não havia pressa

Simplesmente ele e seus falsos amigos estavam ali, conversavam, bebiam, pensavam pouco, mas era tão bom...

Mas fantasiar o passado parece tão despropositado quanto fingir que o futuro será melhor

Com a cabeça confusa, ainda tentando se levantar, percebeu um mosaico de imagens distorcidas

Percebeu que tudo isso poderia nada mais ser que a construção imaginária de um outro

Nós, poderosos! porém, marionetes!

O mundo, um vídeo-game, em que alguém brinca de nos jogar

Lembrou de Descartes...

Mas cansou de lembrar 

Preferiu organizar essa mistura tão bizarra que aparece como a junção de ilusão com esperança

Simplesmente queria a paz de uma explicação das coisas que não fosse confusa, queria a esperança da lucidez

Mas a esperança, ela ilude...

O ceticismo, assombra, 

então, o que sobra?

O mosaico...