quarta-feira, 15 de junho de 2016

Xadrez: O jogo da trapaça


 

Vídeo sobre o tema em nosso canal no Youtube: https://youtu.be/KectUV-LBKI
 
Introdução sobre uma visão filosófica

 da ética no xadrez

 

Dizem alguns que o xadrez é o jogo do combate

 Imagem metafórica da guerra:  matar ou morrer, dar o xeque-mate é fundamental!
 

 Quando temos uma visão do xadrez como guerra, podemos sim pensá-lo a partir das regras da guerra, até porque toda guerra tem regras, ainda que não sejam éticas.
 
 

Na guerra, muitas vezes, ocorre uma diferença de forças entre os adversários, quando um dos lados possui mais recursos, mais armas, mais soldados, etc.

Mas mesmo na guerra, a inferioridade não é determinante, pois quem diria que o Vietnã superaria o EUA anos atrás?


No xadrez ocorre que a posição inicial é razoavelmente equilibrada e a pequena vantagem dada pelas brancas pelo seu lance inicial acaba, na prática, influenciando algo, mas não determinando o resultado do jogo.

 Até existem enxadristas que conseguem melhores resultados com peças negras e preferem jogar com elas que com as brancas.

 A “ética” (grego ethikós) trata dos costumes, no sentido de apresentar regras ou princípios que orientem a escolha acertada. Se remetendo às normas das escolhas humanas, saber agir entre o bem e o mal faz da ética uma norma para a convivência social.

 
Se o xadrez é o jogo da guerra, como conciliar a luta pela sobrevivência, a busca incessante e irrestrita pela vitória com a convivência justa e harmoniosa?

 
Sendo repetitivo: jogando xadrez só conheci péssimos perdedores!

 A ética parece secundária, ou um discurso vazio, quando observamos a prática enxadrística tal qual ela é.

 
Os enxadristas, muitos deles, são mal-humorados, mal-educados, mentirosos, pão duros, ferrados, astuciosos e, quando podem, muitas vezes até roubam para vencer a todo custo.

 O caso mais típico é aquele em que um enxadrista toca na peça e se nega a jogá-la. Quando isso acontece, a confusão é tremenda e o árbitro precisa se virar para alcançar alguma justiça!

Na atualidade a principal pauta quanto ao papel ético do xadrez trata da questão do uso ilegal de celulares e computadores em competições oficiais.

 
O Grande Mestre Gaioz Nigalidze, da Geórgia, jogando contra o Grande Mestre - Tigran Petrosian, na sexta rodada do Aberto de Dubai em 2015, assombrou o mundo ao ser constatado que em suas repetidas idas ao banheiro, havia um aparelho Iphone escondido entre uma pilha de papel higiênico!

Após constatada a fraude pelos árbitros, considerando diversas evidências levantadas, o Grande Mestre em questão foi eliminado do torneio e instaurou-se um processo para uma possível suspensão dele por até 15 anos.

Ora, este não é um caso isolado, basta que acessemos o Google para verificarmos pelo menos uma dezena destas situações entre o xadrez profissional de alto nível.

Se o xadrez também é chamado de jogo da inteligência, da criatividade, trapacear, plagiar, ocultar, atacar o adversário, isso não contraria a própria essência do jogo?

Mas temos uma contradição aqui manifesta:

Que é o xadrez? É o jogo da guerra?

Entre tantas possíveis definições, uma perspectiva pouco defendida e divulgada é a do xadrez como instrumento ético.

Não há espaço e sentido para que defendamos o jogo como uma imagem da guerra.

A guerra, em sua acepção, ela é a ausência de diálogo em vista de conflitos de interesses. Quando não há diplomacia, acontece a guerra.

 Já a proposta do xadrez é atuar com adversários e não com inimigos. Em uma guerra não tenho adversários, mas sim inimigos. Preciso matar para não morrer!

As bases filosóficas do xadrez devem pautar-se em seu âmbito de instrumento do aperfeiçoamento pessoal para a cidadania. Enquanto instrumento, o xadrez é uma habilidade social, um meio para o crescimento pessoal, social e intelectual. Dissociar a ética da prática enxadrística é retirar da essência do xadrez seu papel social.


Em um mundo de bilhares de pessoas, poucos são os mestres, mas temos milhares de enxadristas.

A prática esportiva salutar é aquela que promove o aperfeiçoamento humano, e isso é defendido e muito bem exposto pelo COI (Comitê Olímpico Internacional - https://www.olympic.org/), e desde os gregos antigos, quando iniciavam as olimpíadas, as guerras eram pausadas em virtude do caráter majestoso e ético das competições.

O xadrez como instrumento de formação humana remete ao seu papel social e psicológico como primários, em detrimento dos resultados que seriam secundários.

Porém, poderíamos observar: fácil dizer, mas sem resultados, o fracasso faz do praticante um sujeito oculto do mundo esportivo!


A dizer a verdade: ninguém gosta de fracassados éticos, as pessoas amam os vencedores, ainda que sem caráter!

 
Entre o ético e a excelência, entre o ideal e o real, o jogo de xadrez manifesta nossa contradição humana em preferirmos o agradável ao justo, o luxo à simplicidade.

 
Esta dualidade própria ao xadrez não é resolvida facilmente, até porque a noção de sujeito ético parece cada vez mais fora de moda no mundo contemporâneo.

De todo modo, cafona ou não, o que você prefere?

Ser ético?

Ou prefere amassar, humilhar, ridicularizar, atacar psicologicamente seu adversário?

Como na ética a resposta não está dada, no xadrez também não! Cada um faz a sua...



Autor: Edgard Vinícius Cacho Zanette

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