domingo, 24 de julho de 2016

O direito ao contraditório


Não suportar o outro e suas ideias...

Eis uma situação que vai se firmando no mundo atual como um processo global de totalitarismo do pensamento.

Projetos que inibem o posicionamento pessoal levam as pessoas a defenderem posições extremas, as quais, geralmente, trazem problemas quanto ao direito à livre manifestação de pensamento.

A Filosofia nasce ligada ao logos, e, como tal, ela remete a uma certa capacidade de dar sentido, pelo pensamento e pela linguagem, ao que entendemos das coisas e do mundo.

Todo pensamento deveria, de um modo ou de outro, ser uma abertura: o pensamento que não muda, que não se contradiz, que não se abre ao outro, não parece cumprir sua missão enquanto "logos".

Se temos uma opinião irredutível eque jamais permite um diálogo com outras posições, tal opinião dificilmente se encaixa bem no discurso filosófico.

O mundo da vida, a nossa vida social, ela precisa do logos. Os jogos de pensamentos e seus elementos discursivos nos elevam a aprimorar nossa capacidade de sermos significativos.

Sem a significação, sem a possibilidade da manifestação de ideias, não há dialética, bem como não existe espaço para a contraposição enriquecedora de ideias...

Como querer que a Escola não discuta política? Se o mundo da vida de alunos e professores é tecido a partir dos elementos políticos que organizam nossas sociedade?

Projetos como "escola sem partido", na verdade, parece algo tão insano quanto defender o controle da liberdade, a partir da defesa de regimes totalitários.

Argumentos como: Antigamente a bandidagem não se criava! Hoje está uma bagunça! É preciso colocar as coisas em ordem!

Na verdade, observem bem quais são os atores sociais que defendem esses posicionamentos!

Os regimes extremamente conservadores não querem a mudança de paradigmas sociais...

A liberdade de pensamento, a liberdade sexual, a liberdade social, todas estas são bandeiras que não podem deixar de estar presentes e serem discutidas em sala de aula!

Que a escola seja um terreno de dialética, de logos, de discussão e ampliação de ideias! 

Se a defesa de uma "escola sem partido" seria válida, o que dizer do estado laico de direito, pois em nossas escolas cada vez mais observamos a intromissão, as vezes não sadia, de religiões que determinam inclusive o que deve ser estudo e o que é o certo e o errado!

No Brasil, por vezes temos a impressão que vivemos em um estado "teocrático", e digo isto lembrando que tenho minha religião e acredito nela!

Mas o estado é laico, e nele, uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa!

O direito ao contraditório no terreno escolar é tão importante quanto o direito a ir e vir.

Assusta o caminho que o Brasil tomou nos últimos tempos...