Extirpar o sofista que habita nossa
pele, ou brincar de sofista sendo filósofo - sem o ser?
Entre a mentira gozosa do sofista e a
verdade seca do filósofo, o que preferir?
A opinião desinteressada é falha, mas é
gostosa! ...
A verdade é majestosa, porém, imposta?
...
É bom roçar a mentira porque ela tem um
sabor de pecado
Já a verdade, gosto não tem!
Pecado e chocolate ... coisas
resistíveis?
***
Descartes explica cuidadosamente o
quanto é difícil para nós desconstruir preconceitos.
A imagem do sofista é a de um
falastrão, isto porque o sofista ama o relativismo.
Essa perspectiva que deprecia o
sofista, de fato, foi construída historicamente a partir de filósofos
importantes, como Platão.
Felizmente, ao longo do século XXI, os
estudiosos de filosofia antiga mostraram o quanto estes sábios itinerantes
foram originais e que esta imagem deles é um tremendo equívoco. Em tempos de
retrocesso, crise e intolerância, é salutar valorizarmos tais pensadores que
defendiam a autonomia e o pensamento crítico, mesmo que contrariando as normas
vigentes.
Não intenciono defender a ausência de
verdade ou uma pretensa superioridade dos sofistas sobre os filósofos, até
porque não sou nietzschiano!
Mas como estou trabalhando introdução à
Filosofia e ética, me sinto obrigado a pensar a sofistica segundo o seu devido
valor.
Entre outros temas, gosto da história
de Helena de Tróia, um caso interessantíssimo!
Desde os gregos antigos, sábios como
Górgias, ironizam a moralidade e defendem a adúltera!
Segue abaixo, alguns tópicos que
discutiremos em nossas aulas de introdução à Filosofia
Importância dos
Sofistas:
*Mestres da sabedoria
*Colocaram o homem no centro da
reflexão filosófica
*O pensamento e a argumentação, ambos,
constituem um tema próprio de argumentação
* linguagem torna-se central
* Crítica aos valores tradicionais – através
da valorização das opiniões em detrimento dos dogmas da cultura
* Os sofistas propunham
ensinar a “arèté” (virtude), e cobravam por tais ensinamentos, o que
siginificava, para eles, tornar os homens eficazes e habilidosos na arte de bem
falar.
O relativismo dos sofistas é
apresentado de um modo interessante em Górgias (485-380 ac)
Para ele “nada existe”; e mesmo se
qualquer coisa existe, a gente não a pode conhecer; e mesmo que a possamos
conhecer; não podemos exprimi-la!
Assim, com este esquema Gorgias
acreditava acabar com a pretensão de conhecimentos objetivos, limitando tudo às
opiniões
GÓRGIAS:
ELOGIO DE HELENA - breves extratos/fins didáticos
(2)
Cabe ao mesmo homem dizer corretamente o devido e refutar os que repreendem
Helena, mulher acerca da qual veio a ser uníssono e unânime tanto a
crença dos que deram ouvidos aos poetas, quanto a fama do nome que, de
desgraças, tornou-se memória.
(6)
Pois, ou por determinação da Sorte e por deliberação dos deuses e por decreto
da Necessidade fez o que fez, ou foi raptada à força, ou persuadida
pelos discursos, ou surpreendida pelo amor.
(7)
Se, porém, à força foi raptada e ilegalmente foi forçada e injustamente foi
ultrajada, evidente que, por um lado, o que raptou, como ultrajou, cometeu
injustiça; por outro lado, a que foi raptada, como foi ultrajada, foi
desafortunada.
(14)
[...] assim como alguns dos fármacos expulsam alguns humores do corpo e fazem
cessar uns, a doença, outros, a vida, assim também dentre os discursos uns
afligem, outros deleitam, outros atemorizam, outros conferem ousadia aos
ouvintes, outros, por alguma má persuasão, drogam e enfeitiçam completamente a
alma.
(19) Se, então, pelo corpo de
Alexandre, o olho de Helena sentiu um ímpeto e transmitiu à alma o conflito
do amor, que há nisso de espantoso?
|
(20) Como, então, considerar
justa a reprimenda à Helena? Esta que, ou enamorada, ou persuadida pelo
discurso, ou raptada à força, ou constrangida pela necessidade divina, fez o
que fez? De todo modo escapa à acusação.
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(21) Afastei com este discurso
a infâmia de uma mulher, permaneci na regra que estabeleci no início do
discurso; tentei dissipar a injustiça da reprimenda e a ignorância da
opinião; quis escrever o discurso, por um lado, como um elogio de Helena, por
outro lado, como um brinquedo.
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Local
de acesso: GÓRGIAS. Elogio de Helena. Tradução de Daniela
Paulinelli. Belo Horizonte: Anágnosis, 2009. [Apresenta as
traduções de textos gregos realizadas pelo grupo Anágnosis, da
UFMG.] Disponível em: <http://anagnosisufmg.blogspot.com/2009/11/elogio-de-helena-gorgias.html>.
Acesso em 06-04-2017
Observação: Aqui
no blog não intencionamos apresentar textos densos e profundos, pois tentamos
fazer isso em outros lugares. Por um lado, pecaremos por omissão e
superficialidade, mas, por outro lado, deixamos a normatização
acadêmica para discutir de modo mais livre.
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