sexta-feira, 7 de abril de 2017

Nietzsche e a morte do xadrez



Nietzsche e a morte do xadrez

A cientificidade do xadrez computadorizado nos mostrou o quanto somos limitados. Deep blue (a famosa e controversaa máquina de jogar xadrez da IBM), ele não venceu Kasparov.
O que Deep blue fez foi muito mais!
Sua aparição significou um momento de ruptura.
Após o controverso match “vencido pela máquina”, a ideia de que nós, seres humanos-limitados, seríamos os mestres da cientificidade, ela foi completamente derrubada.
A derrota de kasparov marcou de uma vez por todas a morte do xadrez como uma campo significativo controlado por nós humanos.

De fato, o xadrez não morreu, quem morreu foi o homem para o xadrez!

Isso porque há mais de duas décadas estamos mergulhados em máquinas que nos ensinam como jogar.
Mesmo monstros como Magnos Carlsen, quando acompanhamos suas partidas, como no último match contra Karjakin, com a análise contínua de “engines”, parece que os melhores do mundo eram tão “frágeis”, pois “erravam tanto”...segundo as análise maquinais...

Neste sentido, os computadores mudaram o xadrez para que ele saísse de românticas ideias de cientificidades humanas para adentrar em uma estática análise numérica.

As teorias clássicas, sempre importantes, elas são pautadas em conceitos e métodos pré-estabelecidos. De fato, elas são importantes e parecem orientar e conduzir jogadores para que alcancem até o Top 100 mundial. Porém, certamente não dão conta, por elas mesmas, de prepará-los para o Top 10.

Como “contadores”, a compartimentação do xadrez está criando outros campos significativos. Isso parece, talvez, uma espécie de perspectivismo totalmente novo, até porque o clássico foi sendo cooptado por esse novo âmbito experimental tão computadorizado.

Quanto ao tema, algo salutar é a mudança e a diminuição do tempo da reflexão.
As modalidades de xadrez relâmpago e xadrez rápido ganham terreno, e mestres como Nakamura fascinam a todos com um xadrez de alto nível técnico em um modo “fast”.
Nós morremos para aquele xadrez de partidas que duravam dias, de equipes que viravam madrugadas tomando vodka e calculando e memorizando lances.
Esta reversão dos valores do xadrez, de um xadrez que se tornou racional para as máquinas e irracional para os humanos, ela nos lança para um campo significativo novo.

De todo modo, sempre gostei de refletir sobre a natureza do xadrez.

Esta ruptura singular que implica em uma mudança de sentido jamais vista, ela pode ser pensada no xadrez a partir de uma analogia com a filosofia de Nietzsche.
Para quem inicia os estudos filosóficos, é difícil não se assustar com o pensamento crítico do filósofo alemão Friedrich Nietzsche (1844-1900).

Sua desconfiança dos valores morais e da razão ela mesma o levou a reprovar a metafísica e o cristianismo. Inclusive, em frases como: Deus está morto!? O filósofo mostrava o quanto o mundo ocidental perdeu significado.
Inclusive, que ideias como “a existência de Deus” não fariam sentido...

Se não existe verdades absolutas, estaríamos imersos em um perspectivismo-relativista.
Eu que não sou e não pretendo ser nietzschiano, prefiro meu bom e ultrapassado xadrez romântico (mais próximo de kasparov!) que aquele “horroroso” xadrez estranho de 
Deep blue...


imagem pública: https://pixabay.com/