A arte da aparência?
Na política, a moralidade parece excluída, ou, ao menos, menosprezada.
A missão do governante, segundo a visão de Maquiavel (1649-1527), era manter a segurança, a ordem e a prosperidade do estado.
A arte de governar, neste caso, parte de uma objetividade, e o critério é o realismo, pois devemos consideramos os seres humanos como são, e não como deveriam ser.
A missão do "Príncipe", que é o governante sagaz, deve ser: 1) tomar o poder; 2) assegurar a estabilidade política; 3) construir a república unificada.
A política, tal qual a pensa o filósofo de florença, não deve assumir do exterior sua própria moralidade, mas isso não significa que o político deveria ser "imoral".
O que o filósofo mostra e intriga, é que o homem que sempre se comporta bem, entre tantos que não são bons, se destrói por completo, caso não saiba, quando necessário, agir com a força e astúcia.
É por isso que certos vícios podem, inclusive, assegurar a estabilidade e bem-estar de um povo.
No entanto, quando Maquiavel parece sugerir que há uma separação entre a ética individual e a ética na política, desde então tem-se atribuído a ele a frase:
"Os fins justificam os meios"...
Na verdade, o que ele mostra é que na política como na vida, os meios devem se adequar aos fins!
É por isso que em política, explica o filósofo em sua obra "O Príncipe", que a piedade mostraria mais danos que vantagens, pois esta apresenta fraqueza, e na política, o governante deve saber administrar tanto a piedade quanto a crueldade, conforme a necessidade.
Esta visão realista da política se pauta em uma antropologia extraída da constatação, de que os seres humanos são:
"ingratos, volúveis, falsos e dissimulados, temerosos dos perigos, ávidos de lucro, enquanto lhes trazes prazeres e vantagens e não precisas deles, estão todos ao teu lado, a ti oferecem o sangue, os bens, a vida, os filhos, como disse acima, mas, quando precisas deles, todos revoltam-se contra ti".
Segundo uma antropologia um tanto quanto utilitário, as amizades, o amor, as relações humanas se pautariam no interesse recíproco.
O homem, egoísta por natureza, deve ser controlado pelo estado, pois o outro é visto como um concorrente em potencial.
O governante deve, pois, ser tanto raposa quanto leão:
O leão não se defende das armadilhas e a raposa não se defende dos lobos. Logo, é preciso ser raposa para conhecer as armadilhas e leão para assustar os lobos.
Se na política o que conta é a aparência e não a essência, Maquiavel desfaz essa imagem de perverso, tão logo explica em sua obra que o príncipe é um governante sábio, que ao utilizar todos os recursos para a administração do estado, governa para o bem comum, e não para interesses particulares.
Aqui podemos notar o quanto muitos de nossos políticos, no Brasil, estão longe de ser ditos "maquiavélicos", pois eles governam para o particular, e não para a prosperidade universal, tal qual propõe o filósofo florentino.
Autor: Edgard Vinícius Cacho Zanette
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