sábado, 30 de julho de 2016

Introdução à Filosofia: A teoria das paixões na filosofia de René Descartes - Parte I


Qual a diferença entre ver um animal e sentir pavor dele?

Entender o mecanismo passional é fundamental para explicarmos porque sentimos certas coisas e não outras, no contato com determinados objetos.

René Descartes (1596-1650) desenvolveu uma teoria das paixões rompendo com a tradição aristotélica.

No Renascimento, as paixões são examinadas como "um outro que a razão", causando estranheza.

Esta inimizade entre a razão e as paixões decorre da constatação que a razão não tem império absoluto sobre nossos sentimentos e representações.

Entre outros escritos, nas Correspondências e na obra Paixões da Alma (1650), Descartes mostra que a alma/mente humana, sendo o território da razão por excelência, ainda assim, esta mesma razão, muitas vezes, está completamente subordinada às paixões!

O filósofo observa que, estranhamente, a razão é o local das paixões!

Ao fazer ciência das paixões, partindo da relação da união profunda e indissolúvel entre alma/corpo, Descartes antecipa o que a neurobiologia moderna propõe, e diz pesquisá-las como "physicien" (como "físico").


Neste sentido, observando os movimentos que acontecem no corpo e são sentidos na alma/mente,propôs algo inovador para a época, pois as paixões, para Descartes, concernem tanto à mente quanto ao corpo, embora a mente as sinta como suas!

Em (C. a Elisabeth , 01-1646 - AT IV, p. 355), o filósofo mostra que muitas vezes a razão não consegue controlar a rebelião das paixões. Dessa forma, não basta simplesmente querer excluir uma paixão, pois estas são caras e amamos estar emocionados, ainda que a contragosto.

Sob este aspecto, o filósofo, já no século XVII, mostrava a dificuldade em o sujeito vencer uma paixão, pois é preciso compreender a parte somática do mecanismo passional em sua relação com a parte representativa, para a alma, desta emoção.

Qual a diferença entre ver um animal e se assustar com ele?

Descartes mostra no Art. 35 da obra Paixões da Alma que o objeto visto ocasiona no olho uma certa imagem. Por sua vez esta particular disposição ocasiona em nosso corpo e em nosso cérebro uma representação psíquica.

Por fim, este objeto é logo considerado a partir de uma avaliação, isto é,  no sentido de nos precavermos se ele nos é conveniente ou prejudicial.

Percebemos, pois, que ao dizermos que tal animal é ameaçador, e termos assim a paixão do medo, dizemos muito mais do que vemos!

É nossa avaliação das coisas, quase que automática, é ela que nos dita o que sentimos e pensamos.

É por isso que pessoas têm doenças e fobias a partir do simples ato de ver ou pensar em determinados objetos e animais!

Para o filósofo, não temos apenas a paixão no amor, como se divulga atualmente, mas temos outras paixões.

Em sua concepção teríamos as seguintes paixões primitivas:

1) admiração
2) Amor
3) Raiva
4) Desejo
5) Alegria
6) Tristeza

As paixões nos dispõe, nos incita, a querermos certas coisas.

Talvez, viveríamos como zumbis ou em total apatia, sem a existência das paixões.

Porém, nossa alma/mente é responsável pelo uso que fazemos das paixões, mas sentir tal ou tal paixão, no contato primeiro com o objeto, é algo que não podemos controlar.

Em C. a Silhon - 03 ou 04 de 1648 - Diz o filósofo que:

"A Filosofia que cultivo não é tão bárbara e nem tão selvagem que rejeite o uso das paixões, ao contrário, é nela unicamente que eu coloco toda a doçura e a felicidade desta vida"