sábado, 9 de julho de 2016

Tempo lógico e tempo psicológico no xadrez


Zenão de Eléia

Filósofo Pré-Socrático do século VI ac., 
apresentava paradoxos que provavam que o movimento não existe.

Pensar o impensável, viver a multiplicidade, no tempo, que não pode ser explicado racionalmente!

Os argumentos dialéticos de Zenão mostravam que para realizarmos qualquer movimento entraríamos em contradição.

Um dos exemplos que justificariam a irracionalidade e irrealidade do movimento era que o veloz Aquiles jamais alcaçaria uma tartaruga, porque para alcançá-la seria necessário completar a metade do percurso, e depois a metade da metade, e, assim, sucessivamente, até jamais concluir o movimento.

Explicar a realidade, a multiplicidade e o tempo, são temas que norteiam a filosofia em toda sua historicidade.

No xadrez, o tempo lógico é aquele constante sequencial que organiza as jogadas em relógios. O tempo lógico é um e o mesmo, e nele temos o acontecer do jogo de xadrez segundo regras estáticas que devem ser seguidas.

Partidas que duravam dias e eram interrompidas, antes da era dos supercomputadores, Matchs dos campeonatos mundiais de xadrez eram decididos por equipes que permaneciam madrugadas pensando linhas de jogo...

Fantástico foi, sob este aspecto, alguns dos Matchs entre Karpov e Kasparov.

Nos dias atuais a lógica reinante do xadrez é cada vez mais veloz, até porque os desenvolvimentos tecnológicos impedem partidas jogadas e paralisadas por dias. 

O xadrez postal, certamente, hoje enfrenta dificuldades, pois os membros que "jogam limpo" são cada vez mais escassos.

O pensamento posto no jogo de xadrez e o tempo como elemento determinante, o uso do tempo é tema estratégico tão importante quanto estudar as fases do jogo.

Quando estava jogando torneios de xadrez convencional, uma regra que eu sempre utilizava, enquanto administração psicológica do tempo, era contar lances e pensá-los segundo um tempo definido, por exemplo: a partir do décimo lance, não jogar nenhum lance sem ser revisado, e com o uso mínimo de 4 minutos por lance.

Este uso psicológico do tempo me ajudou muito, pois em revisando minhas derrotas, percebia que por vezes me "empolgava" no jogo e fazia lances muito rapidamente apenas para uma satisfação psicológica minha ou mesmo por pura exibição ao adversário, no sentido de pressioná-lo, o que geralmente se mostrava uma estratégia infeliz e fracassada.

No xadrez relâmpago, ao contrário, jogava contra jogadores mais velozes que eu, e precisava manter uma qualidade no jogo, além de não ficar atrás no tempo.

O equilíbrio entre a qualidade do jogo e uma manutenção saudável do tempo, para não permanecer em desvantagem e possivelmente não ter tempo para os momentos decisivos da partida, esta é uma regra de ouro no xadrez.

Eu conheço, certamente vocês devem conhecer também, pessoas que jogam muito bem xadrez mas sempre perdem por tempo!

Isso é terrível!

É necessário levar a planificação do tempo, em âmbito psicológico, como elemento central da estratégia enxadrística.

A plasticidade do tempo psicológico deve ser entendida como uma arte de manobrar e enlaçar as necessidades temporais do jogo com os lances e a qualidade do jogo posta sob o tabuleiro.

A queda da seta é o fim do jogo. A luta contra o relógio está posta a nós tanto quanto o adversário que pretende nos dar xeque-mate!

Se o tempo lógico é um enigma posto sob os ponteiros do relógio de xadrez, por outro lado, o tempo psicológico deve ser nosso grande aliado.



Tempo, tempo, prodígio....

imposição

arbitrariedade a ser superada

sua psicologia é nossa

sua lógica é absoluta

e entre lances e pensamentos

entre a vitória e a derrota

 ou na paz de um passivo empate

ao que se move, permanece

 enquanto os lances passam

enxadristas brincam de vislumbrar um ínfimo do tempo

mas o tempo, ele mesmo, é e não é...

tal qual Zenão propõe quanto ao movimento?


Introdução à Filosofia - o existencialismo



Contra os temas clássicos da filosofia, sobretudo das metafísicas essencialistas, o existencialismo propôs que pensássemos sobre a condição humana no mundo, a partir de questões como: angústia, cuidado, trágico, desespero, etc.

Dizem os existencialistas que a filosofia, em geral, não abarca o mundo interior do indivíduo, bem como suas vivências imediatas.




Reivindicando a abertura a pensar temas polêmicos como a angústia, o suicídio, entre outros, o existencialismo defende que estejamos abertos a tudo. Nossa experiência sendo frágil e aparentemente relativa, a questão da criação de sentidos para nossa existência aparece como fundamental.

Em geral, o pensamento existencialista considera que não há uma essência absoluta, fundamente, a-histórica, que precederia a existência.  É pelos percalços da liberdade que construímos os significados do mundo.

Uma ideia fundamental é que não basta permanecer no plano dos conceitos e do abstrato, sendo necessário, pois, que encontremos as coisas mesmas, isto é, as coisas existentes.

Na filosofia contemporânea, o existencialismo se destacou a partir de diversas filosofias, sem que houvesse, no entanto, a unidade de uma doutrina única. Então, é importante assinalar que o existencialismo é mais uma postura filosófica que uma doutrina. Por exemplo, Sartre desenvolveu um existencialismo ateu, enquanto que Gabriel Marcel desenvolveu um existencialismo cristão, etc.

Gabriel Marcel (1877-1973) representa no existencialismo o questionamento sobre o mistério da existência, enfatizando a importância da experiência subjetiva, da relação "eu-tu" como contribuindo para nosso engajamento com o dramático da existência. 
Diante do mistério da existência, Deus é tratado como algo indemonstrável e presente a partir da própria experiência da finitude humana, a qual pode alcançar a Deus.


Jean Paul Sartre (1905-1980), considerado o maior expoente do existencialismo no pós segunda guerra, enfatizava que a liberdade é total. Absolutamente livres, os seres humanos fazem, e em fazendo, fazem a vida social e a si mesmos.

Condenados a sermos livres, encontramos a angústia. Para Sartre, autor da obra "O ser e o nada", a náusea, a angústia e a vergonha são emoções que manifestam a existência em sua autenticidade.

Para Sartre a existência precede a essência, de forma que, como tal, os seres humanos não podem abdicar de sua vocação à liberdade.

Sobre o tema, Sartre trata nossa tendência a nos enganarmos como uma "má-fé", isto é, o modo com o qual nós costumamos nos esquivar das responsabilidades.

É necessário que assumamos as responsabilidades pelo o que fazemos, assim como por nossos projetos.


É através de nossas escolhas que criamos os sentidos que orientam a vida social humana, neste sentido, a liberdade liberta mas também condena, pois, sem certo sentido, estamos condenados a ser livres.

Autor: Edgard Vinícius Cacho Zanette

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