"Você quer minha morte, peixe.
É teu direito.
Camarada, nunca vi nada maior,
nem mais nobre, nem mais calmo,
nem mais belo que você.
Siga, me mate.
Não importa qual de nós dois mate o outro!"
(Ernest Hemingway - O velho e o mar)
A morte,
paradoxo da vida,
é imponente no xadrez.
O respeito pelo outro é o respeito pela morte, pela possibilidade da minha morte como processo de deixar o jogo acontecer.
Sem morte, não há xeque-mate!
O xeque-mate faz a vitória acontecer.
Os empates, esses sim entendiam!
Quando trata da relação sinuosa entre passado-presente, em sua obra "O velho e o mar", Hemingway problematiza a beleza da morte como processo de devir.
Aceitar a morte, a beleza das coisas pela necessidade da derrota da vida pela necessidade da morte!
...eis a nobreza do velho pescador, que há a mais de 80 dias não pescava um peixe sequer.
O jovem promissor, o "menino",
teve que deixar de aprender a pescar com o velho,
pois fracassados, para o mundo, não são bons mestres!
Entender o xadrez é fundamental, mas o que importa é a vitória?
Jogar e entender o xadrez são duas coisas fundamentais.
Em nossa sociedade, os mestres professores do xadrez são preteridos, ignorados, ridicularizados.
Apenas os "GM vencedores" parecem receber algum respeito.
Tremendo equívoco!
Uma cultura sem professor é fraca, doente, sem história...
O maior ensinamento do velho é mostrar a vitória da humildade
sobre a hipocrisia das convenções sociais.
Sua prova da perseverança esfacela a prepotência dos jovens que o ridicularizavam...
Diante de uma luta total,
o peixe, em um primeiro momento,
seu inimigo,
mostra-se um camarada,
tão logo se tornam íntimos...
Ambos se alegram e aceitam morrer juntos, o que não acontece,
pois o velho consegue "ficar um pouco mais", diante da necessidade das coisas,
que são contingentes e finitas.
Basta assinalar que obras
como o velho e o mar não são de "autoajuda".
Na verdade são inspirações que motivam a pensarmos o real.
A literatura, irmã da filosofia, exige pensamento...
O velho e o mar,
assim como o xadrez,
nos testa a reconhecer a finitude das coisas,
a beleza do mundo,
o processo de geração e destruição-devir.
No mundo como moinho - "no mar não há cabelos que se possa agarrar!"
(Nos diz o sambista Paulinho da Viola)
É necessário, pois, vencer a si mesmo que vencer ao mundo...
Mas, talvez, sequer seja possível vencer!
Mas temos empates e derrotas...e por que não?
O velho sabia disso, e o jovem menino, também.
Autor: Edgard Vinícius Cacho Zanette
As imagens utilizadas são públicas: www.pixabay.com
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