Fiquei surpreso quando os mestres do MasterChef, essa semana, pediram para os candidatos novatos fazerem ovos!
Os caras tremiam!
Eis as provas: 1) ovo frito; 2) ovo cozido; 3) ovo quebrado em uma panela com água.
Os nomes de tais pratos são sofisticados, mas acima temos o que eles realmente significam.
O trato apurado, a cultura, o refinamento, a valorização de nossas refeições como rituais e momentos de prazer, tudo isso é válido e essencial.
Até Jesus ficou feliz com ceias fartas e festas regadas a vinho!
Mas o excesso, sempre ele, traz consequências perniciosas...
Aprender línguas e culturas, e até sou fã da língua e da Filosofia francesa, mas assim como na comida, é necessário deixar de lado
o excesso de sofisticação.
Da alimentação ao pensar, da amizade ao sexo, a estilização passa por processos de complexidade que fabulam as coisas.
Os caras do MasterChef simplesmente entraram para ter sucesso como mestres da culinária e foram incapazes de fazer um ovo frito!
Senti tremenda vergonha por eles!
Errar é humano, mas cara, ovo frito?
Loucura!
Eu que felizmente tive a oportunidade de cursar a Universidade, vivendo ferrado e sem dinheiro por muitos anos, assim como meus amigos de república, todos nós nos tornamos mestres na arte de fazer ovos cozidos e fritos.
Chama atenção esse processo de sofisticação que enfraquece o ser humano, o tornando, muitas vezes, banal.
A luta contra uma estilização exacerbada, a criação de figuras ilusórias para satisfazer o mercado de uma elite sedenta e exigente em inventar divertimentos, tudo isso traz ao plano da Filosofia a necessidade de desconstruir supostas verdades.
A Filosofia também se tornou sofisticada e até incompreensível. Aparentemente ela está descolada do real.
Isso é um erro, pois, na verdade, poucas são tais Filosofias que pretendem ser inacessíveis ou restritas.
Em relação à sofisticação, certa vez tive oportunidade de comer em um restaurante chique francês. O peso na consciência foi o resultado, pois comi pouco de uma comida estranha, passei fome, e, além disso, por não saber usar tantos talheres fiquei constrangido na hora e fui embora com meu bolso vazio!
É claro que se rolar um jantar estiloso, sempre tem aquela foto para guardar e uma sensação de satisfação por termos acesso a algo caro, mas satisfação do paladar, esta não é garantida...
A prudência, desde Aristóteles, sempre é uma conveniente recomendação!
Mas como é difícil e chato ser prudente!
Um amigo meu que costuma dizer: essa história de cerveja gourmet é bobagem, bom mesmo é litrão!
De toda forma, particularmente eu e minha esposa somos adeptos das pratadas de arroz com feijão, acompanhadas de um bifão (estilo feito pela mãe) com um ovo (zoiudo) por cima. Se tiver salada, tudo bem, se não tiver, a barriga é generosa e não reclama de coisas gostosas e calóricas..."Pois, dizem alguns sábios, boca foi feita pra cumê"
Fico pensando as vezes o quanto fantasiamos, como sofisticamos coisas simples, e, assim, fingimos que elas são outras e deixamos de fazer o essencial.