O culto de uma sobrehumanidade não surge filosoficamente apenas com o filósofo alemão Nietzsche (1844-1900).
Embora Nietzsche tenha uma filosofia muito interessante e complexa, e não trataremos de tal temática aqui, só queremos assinar que a ideia de que poderíamos superar nossa humanidade sempre esteve presente em outros aspectos.
Ir além do comum, não sofrer a ação do tempo, não ser um perdedor, lutar contra a injustiça e vencê-la...
Todo grande herói não é apenas um vencedor, mas é aquele que também faz sacrifícios e é capaz de administrar enormes responsabilidades.
Quanto mais poderes, maiores as responsabilidades!
A química das emoções, os enredos que fazem chorar e emocionar, a injustiça.
O sofrimento da humanidade, a ausência de punição, o sucesso dos corruptos, tudo isso exige que a ordem natural seja alterada ou suplementada por alguns seres capazes de restaurar a justiça, ou ao menos manter um possível equilíbrio.
Alguns, pouco avisados, inclusive interpretam o real associando que a superação do colapso da política brasileira atual ocorreria através de heróis como o juiz Sérgio Moro. Tremenda tolice...
Hitler e Stalin foram retratados como heróis, que fariam uma "limpeza" e purificariam seus países...
Tomemos cuidado com tais discursos e ideias, a noção de "sobrehumanidade" é algo complexo.
Quanto ao tema, fiquemos, por ora, com o que acontece no universo da mídia.
Entre o natural e o fantástico,
o universo dos quadrinhos se tornou uma cultura mundial.
Também é bom lembrar que todos os clichês dos romances populares, das novelas e dos quadrinhos, diferenças a parte, muitas vezes estão propondo soluções fantasiosas, geralmente pontuais, às políticas e contradições que operam no mundo.
O que faz que as novelas da rede globo, por exemplo, serem tão populares, assim como os desenhos de super-heróis, como batman e super-homem?
Reconhecimento! Nós nos reconhecemos neles!
Nos angustiamos, sofremos, compartilhamos emoções e sentimos as felicidades e problemas dos personagens como se fossem nossos!
Aqui no Brasil é uma loucura, na noite do último episódio das novelas da rede globo, ninguém trabalha!
Um outro caso interessante a discutirmos é o do super-homem. Por excessivamente perfeito que ele seja, sua fraqueza principal não é a criptonita, mas sim o julgamento moral.
O que é melhor para ele: salvar um prédio incendiado com centenas de crianças ou sua amada Lois Lane?
Afinal, o que é mais importante para ele: Louis Lane ou a humanidade?
Essa questão entre o particular e coletivo, entre o sacrifício do indivíduo pelo todo, tudo isso que é tão filosófico e é algo que está em nossa vida cotidiana, nos filmes, nas novelas, nos quadrinhos.
O que queremos dizer é que este elemento trágico sempre está envolvido, e parece insuperável.
Embora meio estranho e decepcionante em alguns aspectos, o encontro entre Batman e Super-homem, no filme Batman Vs Superman: A origem da Justiça, ele mostrou o quanto podemos ser traiçoeiros e invejosos!
O Batman, homem-morcego, antigo vigilante de Gotham que se torna um filantropo milionário, ele vem sendo mostrado como um pouco infeliz.
Nesta infelicidade de um ricaço que precisa se ocupar com algo interessante, ao perceber o quanto seu colega é poderoso, ele se prepara e com muita astúcia monta uma armadilha para liquidar o homem de aço!
Que super-herói é esse?
Podemos perceber que agora a luta não é mais definida entre o bem contra o mal.
No filme fica nítida a mudança de orientação, pois ambos parecem mais próximos de nós através de seus sentimentos e conflitos, e elementos como inveja, medo, ganância, etc, são mostrados neles tal qual estão em nós.
Entre tantas filosofias, interpretar o presente deve ser uma das principais!
Experimente assistir novelas e filmes a partir deste olhar mais filosófico, isso pode surpreender, pois o que parece algo prazeroso e normal, pode conter discursos, ideias e intenções mais profundas! Eis a sugestão.
Para quem se interessar sobre tais temas, nós lemos duas obras:
ECO, Umberto Eco. "Il superuomo di massa" - que na tradução que tivemos acesso ao francês fica "De superman au surhomme" (ECO, Éditions Grasse e Fasquelle, 1993).
E o popular:
Superman e a Filosofia: o que o Homem de Aço faria? Coord. William Irwin; Coletânea: Mark D. White. Tradução: João Barata. São Paulo: Madras, 2014.
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