Nietzsche e a
morte do xadrez
A cientificidade
do xadrez computadorizado nos mostrou o quanto somos limitados. Deep blue (a
famosa e controversaa máquina de jogar xadrez da IBM), ele não venceu Kasparov.
O que Deep blue
fez foi muito mais!
Sua aparição significou
um momento de ruptura.
Após o
controverso match “vencido pela máquina”, a ideia de que nós, seres humanos-limitados,
seríamos os mestres da cientificidade, ela foi completamente derrubada.
A derrota de
kasparov marcou de uma vez por todas a morte do xadrez como uma campo
significativo controlado por nós humanos.
De fato, o xadrez
não morreu, quem morreu foi o homem para o xadrez!
Isso porque há mais
de duas décadas estamos mergulhados em máquinas que nos ensinam como jogar.
Mesmo monstros
como Magnos Carlsen, quando acompanhamos suas partidas, como no último match
contra Karjakin, com a análise contínua de “engines”, parece que os melhores do
mundo eram tão “frágeis”, pois “erravam tanto”...segundo as análise
maquinais...
Neste sentido, os
computadores mudaram o xadrez para que ele saísse de românticas ideias de
cientificidades humanas para adentrar em uma estática análise numérica.
As teorias
clássicas, sempre importantes, elas são pautadas em conceitos e métodos
pré-estabelecidos. De fato, elas são importantes e parecem orientar e conduzir jogadores
para que alcancem até o Top 100 mundial. Porém, certamente não dão conta, por
elas mesmas, de prepará-los para o Top 10.
Como “contadores”,
a compartimentação do xadrez está criando outros campos significativos. Isso parece,
talvez, uma espécie de perspectivismo totalmente novo, até porque o clássico
foi sendo cooptado por esse novo âmbito experimental tão computadorizado.
Quanto ao tema, algo
salutar é a mudança e a diminuição do tempo da reflexão.
As modalidades de
xadrez relâmpago e xadrez rápido ganham terreno, e mestres como Nakamura
fascinam a todos com um xadrez de alto nível técnico em um modo “fast”.
Nós morremos para
aquele xadrez de partidas que duravam dias, de equipes que viravam madrugadas
tomando vodka e calculando e memorizando lances.
Esta reversão dos
valores do xadrez, de um xadrez que se tornou racional para as máquinas e
irracional para os humanos, ela nos lança para um campo significativo novo.
De todo modo,
sempre gostei de refletir sobre a natureza do xadrez.
Esta ruptura singular
que implica em uma mudança de sentido jamais vista, ela pode ser pensada no
xadrez a partir de uma analogia com a filosofia de Nietzsche.
Para quem inicia
os estudos filosóficos, é difícil não se assustar com o pensamento crítico do
filósofo alemão Friedrich Nietzsche (1844-1900).
Sua desconfiança
dos valores morais e da razão ela mesma o levou a reprovar a metafísica e o
cristianismo. Inclusive, em frases como: Deus está morto!? O filósofo mostrava
o quanto o mundo ocidental perdeu significado.
Inclusive, que
ideias como “a existência de Deus” não fariam sentido...
Se não existe
verdades absolutas, estaríamos imersos em um perspectivismo-relativista.
Eu que não sou e
não pretendo ser nietzschiano, prefiro meu bom e ultrapassado xadrez romântico (mais
próximo de kasparov!) que aquele “horroroso” xadrez estranho de
Deep blue...
imagem pública: https://pixabay.com/
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