Vídeo sobre o tema em nosso canal no Youtube: https://youtu.be/KectUV-LBKI
Introdução sobre uma visão filosófica
da ética no xadrez
Dizem
alguns que o xadrez é o jogo do combate
Imagem
metafórica da guerra: matar ou morrer,
dar o xeque-mate é fundamental!
Quando
temos uma visão do xadrez como guerra, podemos sim pensá-lo a partir das regras
da guerra, até porque toda guerra tem regras, ainda que não sejam éticas.
Na
guerra, muitas vezes, ocorre uma diferença de forças entre os adversários,
quando um dos lados possui mais recursos, mais armas, mais soldados, etc.
Mas mesmo
na guerra, a inferioridade não é determinante, pois quem diria que o Vietnã
superaria o EUA anos atrás?
No xadrez
ocorre que a posição inicial é razoavelmente equilibrada e a pequena vantagem
dada pelas brancas pelo seu lance inicial acaba, na prática, influenciando
algo, mas não determinando o resultado do jogo.
Até
existem enxadristas que conseguem melhores resultados com peças negras e
preferem jogar com elas que com as brancas.
A “ética”
(grego ethikós) trata dos costumes, no sentido de apresentar regras ou
princípios que orientem a escolha acertada. Se remetendo às normas das escolhas
humanas, saber agir entre o bem e o mal faz da ética uma norma para a
convivência social.
Se o
xadrez é o jogo da guerra, como conciliar a luta pela sobrevivência, a busca
incessante e irrestrita pela vitória com a convivência justa e harmoniosa?
Sendo
repetitivo: jogando xadrez só conheci péssimos perdedores!
A ética
parece secundária, ou um discurso vazio, quando observamos a prática
enxadrística tal qual ela é.
Os
enxadristas, muitos deles, são mal-humorados, mal-educados, mentirosos, pão
duros, ferrados, astuciosos e, quando podem, muitas vezes até roubam para
vencer a todo custo.
O caso
mais típico é aquele em que um enxadrista toca na peça e se nega a jogá-la.
Quando isso acontece, a confusão é tremenda e o árbitro precisa se virar para
alcançar alguma justiça!
Na atualidade a principal pauta quanto ao papel
ético do xadrez trata da questão do uso ilegal de celulares e computadores em
competições oficiais.
O Grande Mestre Gaioz Nigalidze,
da Geórgia, jogando contra o Grande Mestre - Tigran Petrosian, na sexta rodada
do Aberto de Dubai em 2015, assombrou o mundo ao ser constatado que em suas
repetidas idas ao banheiro, havia um aparelho Iphone escondido entre uma pilha
de papel higiênico!
Após constatada a fraude pelos árbitros,
considerando diversas evidências levantadas, o Grande Mestre em questão foi eliminado
do torneio e instaurou-se um processo para uma possível suspensão dele por até
15 anos.
Ora, este não é um caso isolado, basta que
acessemos o Google para verificarmos pelo menos uma dezena destas situações
entre o xadrez profissional de alto nível.
Se o xadrez também é chamado de jogo da
inteligência, da criatividade, trapacear, plagiar, ocultar, atacar o
adversário, isso não contraria a própria essência do jogo?
Mas temos uma contradição aqui manifesta:
Que é o xadrez? É o jogo da guerra?
Entre tantas possíveis definições, uma perspectiva
pouco defendida e divulgada é a do xadrez como instrumento ético.
Não há espaço e sentido para que defendamos o jogo
como uma imagem da guerra.
A guerra, em sua acepção, ela é a ausência de
diálogo em vista de conflitos de interesses. Quando não há diplomacia, acontece
a guerra.
Já a proposta do xadrez é atuar com adversários e
não com inimigos. Em uma guerra não tenho adversários, mas sim inimigos.
Preciso matar para não morrer!
As bases filosóficas do xadrez devem pautar-se em
seu âmbito de instrumento do aperfeiçoamento pessoal para a cidadania. Enquanto
instrumento, o xadrez é uma habilidade social, um meio para o crescimento
pessoal, social e intelectual. Dissociar a ética da prática enxadrística é
retirar da essência do xadrez seu papel social.
Em um mundo de bilhares de pessoas, poucos são os
mestres, mas temos milhares de enxadristas.
A prática esportiva salutar é aquela que promove o
aperfeiçoamento humano, e isso é defendido e muito bem exposto pelo COI (Comitê
Olímpico Internacional - https://www.olympic.org/), e
desde os gregos antigos, quando iniciavam as olimpíadas, as guerras eram
pausadas em virtude do caráter majestoso e ético das competições.
O xadrez como instrumento de
formação humana remete ao seu papel social e psicológico como primários, em
detrimento dos resultados que seriam secundários.
Porém, poderíamos observar: fácil dizer, mas sem
resultados, o fracasso faz do praticante um sujeito oculto do mundo esportivo!
A dizer a verdade: ninguém gosta de fracassados
éticos, as pessoas amam os vencedores, ainda que sem caráter!
Entre o ético e a excelência, entre o ideal e o
real, o jogo de xadrez manifesta nossa contradição humana em preferirmos o
agradável ao justo, o luxo à simplicidade.
Esta dualidade própria ao xadrez não é resolvida
facilmente, até porque a noção de sujeito ético parece cada vez mais fora de
moda no mundo contemporâneo.
De todo modo, cafona ou não, o que você prefere?
Ser ético?
Ou prefere amassar, humilhar, ridicularizar, atacar
psicologicamente seu adversário?
Como na ética a resposta não está dada, no xadrez
também não! Cada um faz a sua...
Autor: Edgard Vinícius Cacho Zanette
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O vídeo é de nossa autoria e não deve ser comercializado ou utilizado para fins que não sejam pedagógicos.
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