sexta-feira, 15 de setembro de 2017

Colóquio Internacional Fausto Castilho e Ensaios e Discurso do Método de Descartes - 02 a 06 de Outubro de 2017



1º CONGRESSO FAUSTO CASTILHO DE FILOSOFIA

Local: Auditório Fausto Castilho (IFCH-Unicamp), auditório do Instituto de Estudos da Linguagem (IEL-Unicamp) e auditório da Casa do Professor Visitante (CPV-Unicamp)

Período: 2 a 6 de outubro de 2017

Realização: Fundação Fausto Castilho, Instituto de Estudos Avançados da Unicamp e GT Estudos Cartesianos da ANPOF

Apoio: Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH-Unicamp), Instituto de Estudos da Linguagem (IEL-Unicamp), Centro de Estudo da História da Filosofia Moderna e Contemporânea (CEMODECON-Unicamp) e Instituto de Filosofia da UFU (IFILO-UFU), CAPES, FAPESP e FAPEMIG.

Eventos do 1º CONGRESSO FAUSTO CASTILHO DE FILOSOFIA

Colóquio “Fausto Castilho e seus alunos – um aprendizado para a vida inteira”: 2 e 3 de outubro

Colóquio internacional “Ensaios e Discurso do Método”: 3 a 6 de outubro

Colóquio “Fausto Castilho e seus colegas – uma companhia para a vida inteira”: 6 de outubro







PROGRAMAÇÃO GERAL

2 de outubro, segunda-feira

Local: Auditório Fausto Castilho (IFCH)



9h30: Abertura do Congresso

Álvaro Bianchi, diretor do IFCH; Luiz Orlandi, diretor do CEMODECON; Jorge Coli, ex-diretor do IFCH; e Carmen Castilho, presidente da Fundação Fausto Castilho



10h00-10h50: Conferência de Abertura do 1º Congresso Fausto Castilho de Filosofia

Husserl, Heidegger e a intuição categorial

Oswaldo Giacoia Junior, Unicamp /SP



Colóquio “Fausto Castilho e seus alunos – um aprendizado para a vida inteira”



11h00- 12h10

A teoria da sensibilidade no Manual dos Cursos de Lógica Geral de Kant

Marcos César Seneda, UFU/MG



Da Lógica de Kant à Lógica de Espinosa: influências de Fausto Castilho em minha trajetória de pesquisa

Cristiano Rezende, UFG/GO



14h00 – 15h10

A reinvenção do transcendental no horizonte da erosão do óbvio

Luciene Maria Torino, UFU/MG



Sobre a possibilidade de superar a filosofia sem realizá-la (ou Fausto Castilho e o marxismo)

Hélio Ázara de Oliveira, UFCG/PB



15h30- 16h40

Com Fausto da Unicamp ao Valle D’Aosta

Rogério Alessandro de Mello Basali, UnB/DF



O que pode um professor?

Cíntia Vieira da Silva, UFOP/MG



17h00– Inauguração da Biblioteca de Obras Raras “Fausto Castilho”

Reitor da Unicamp: Marcelo Knobel

Coordenadora Geral da Unicamp: Teresa Atvars

Presidente do Conselho do IEA-Unicamp: Carlos Vogt

Representante do Conselho Curador da Fundação Fausto Castilho: Alexandre Guimarães Tadeu de Soares



Coquetel



Dia 3 de outubro

Local: Auditório Fausto Castilho (IFCH)



9h30 – 10h40

A vontade de aprender e o conceito de universidade que Fausto Castilho conhecia mesmo sem conhecer

Cassiano Terra Rodrigues, PUC/SP



Entre príncipes e lobos: divergências convergentes na modernidade filosófica de Maquiavel e Hobbes

Luiz Carlos Santos da Silva, UFU/MG



10h50-12h00

O pensamento inefável - Reflexões inspiradas por Fausto Castilho sobre Heidegger e o fim da filosofia

Vicente de Arruda Sampaio, CEMODECON/Unicamp



Estudar filosofia: ler no original, expressar-se em vernáculo

Anselmo Tadeu Ferreira, UFU/MG







Colóquio Internacional Discurso do Método e Ensaios



14h00-14h30

Abertura do Colóquio

César Augusto Battisti e Enéias Júnior Forlin, coordenadores do Colóquio e do GT Estudos Cartesianos da ANPOF



14h30 – 15h20: Conferência de Abertura do Colóquio

La métaphysique du Discours de la méthode

Laurence Renault, Universidade de Paris-Sorbonne (França)





15h40h – 17h00

L'argument pour la distinction réelle dans le Discours de la Méthode

Igor Agostini, Universidade do Salento (Itália)



Observações preliminares sobre a teoria da percepção na Dióptrica

Lia Levy, UFRGS/RS



17h20 – 18h40

A Sexta Parte do Discurso e a constituição da noção de autoria em Descartes

Ulysses Pinheiro, UFRJ/RJ



La correspondance Clerselier-Fermat à la lumière des polémiques sur la Dioptrique

Siegrid Agostini, Universidade do Salento (Itália)





Dia 4 de outubro

Local: Auditório do Instituto de Estudos da Linguagem (IEL)



9h00– 9h50

Le rôle des suppositions dans la physique cartésienne

Pierre Guenancia, Universidade da Borgonha (França)



10h10 – 12h10

La fortune de Descartes et du cartésianisme dans la première modernité à Naples

Pierre Girard, Universidade de Lyon (França)



O cogito enquanto princípio último do mundo civil: uma possível influência de Descartes sobre a Scienza Nuova de Vico

Sertório de Amorim e Silva Neto, UFU/MG



Vico: outro crítico de Descartes

Vladimir Chaves dos Santos, UEM/PR





14h00 – 15h20

Margaret Cavendish and the reception of Descartes in England

Marcio Augusto Damin Custódio, Unicamp/SP e Sueli Sampaio D. Custódio, ITA,SP



Algumas questões sobre homens e animais no Discurso do Método

Mariana de Almeida Campos, UFBA/BA





15h40 – 17h00

Como distinguir humanos de autômatos que proferem palavras e imitem suas ações

Djalma Medeiros, Faculdade de São Bento/SP



La dimension pragmatique du Discours de la Méthode

Wojciech Starzynski, Academia Polonesa de Ciências (Polônia)



17h20-18h40

Ciência e propedêutica na moral do Discurso do Método

Edgard Vinícius Cacho Zanette, UERR/RR



A moral por provisão possui um caráter provisório?

Lilian Cantelle, UEL/PR





Dia 5 de outubro

Auditório do Instituto de Estudos da Linguagem (IEL)



09h30 – 10h20

Félicité et méthode chez Descartes

Jaime Antonio Derenne, Universidade Livre de Bruxelas (Bélgica)



10h40-12h00

Método e explicação científica em Descartes

Pedro Pricladnitzky, UEM/PR



O Discurso do Método como trunfo para a datação da Recherche de la Vérité

Maíra Borba, UFMS/MS



14h00 -15h20

Os Meteoros e o primeiro confronto com a tradição

Paulo Tadeu da Silva, UFABC/SP



Sobre o lugar dos problemas na Geometria

César Augusto Battisti, UNIOESTE/PR



15h40 – 17h00

O que há de permanente na moral provisória do Discurso do Método?

Érico Andrade, UFPE/PE



A reformulação cartesiana do conceito de substância no Discurso do Método

Enéias Júnior Forlin, Unicamp/SP



17h30 – 18h20

Razão e experiência no Discurso do Método & Ensaios

Pablo Ruben Mariconda, USP/SP





Dia 6 de outubro

Auditório da Casa do Professor Visitante



Apresentação de trabalhos de pós-graduandos

9h30 – 11h00

O papel da regra três do Discurso do Método na noção cartesiana de substância

Rafael Monteiro de Castro, UFRJ/RJ



A felicidade no Discurso do método

Marvin Strada, UFU/MG



Sobre as metáforas arquitetônicas do Discurso do Método

Carmel da Silva Ramos, UFRJ/RJ



11h10 – 12h10

Elementos do Discurso do método para a elaboração de uma estética cartesiana

Hênia Laura Duarte, UFU/MG



Descartes e a crítica à lógica no Discurso

Monique Vivian Mendes Guedes, USP/SP e UFRJ/RJ





Colóquio Fausto Castilho e seus colegas – uma companhia para a vida inteira



14h00 – 15h40

Matéria como extensão: Filopono e Descartes

Fátima Évora, Unicamp /SP



A transcendência em Sartre: ontologia e ética

Franklin Leopoldo e Silva, USP/SP



Conferência de encerramento do 1º Congresso Fausto Castilho de Filosofia

16h00 – 16h50

Filosofia implica amizade e trabalho



Luiz Benedicto Lacerda Orlandi, Unicamp/SP

segunda-feira, 4 de setembro de 2017

Lançamento do novo volume da Revista da UERR - REMGADS - Volume 10; Nº 1



http://academico.uerr.edu.br/ojs/index.php/REMGADS/article/view/96/54

A Revista Ambiente: Gestão e Desenvolvimento – REMGADS é uma revista on-line da região amazônica que emerge com o intuito de ampliar a visibilidade de pesquisas acadêmicas nas áreas de Ciências Humanas, Linguagens e Artes, Ciências Biológicas e da Saúde, Ciências Exatas e Agrárias, Ciências Socialmente Aplicadas. Fomentando um espaço reflexivo e democrático, sua publicação on-line permite a difusão do saber de forma facilitada e sem custos ao leitor/pesquisador. Primando por rigoroso processo de seleção de pesquisas, nela são acolhidos textos sob a forma de artigos, artigos de revisão, notas de pesquisa e notas técnicas, traduções e resenhas. Sua finalidade acadêmica e social visa a democratização do saber e permite que acadêmicos, pesquisadores e comunidade em geral possa partilhar saberes fundamentais à produção científica da região amazônica, bem como em âmbito nacional e internacional. A região amazônica carece destes espaços transdisciplinares de promoção de pesquisas sérias e qualitativas, de forma que o esforço por promover esta democratização do conhecimento cumpre uma missão fundamental para o estado de Roraima. A REMGADS tem como propósito o incentivo à investigação e ao debate acadêmico, prestando-se como um instrumento de divulgação do conhecimento. Nesta edição 10, volume nº 1, Julho de 2017, temos uma seção “varia”, com a publicação de artigos em fluxo contínuo e dois dossiês: o primeiro, organizado pela Professora Mestra Ana Paula Joaquim Macêdo (UERR) que trada dos Direitos Humanos a partir de estudos críticos contemporâneos; O segundo dossiê traz publicações dos estudos filosóficos da EAF - Escola Amazônica de Filosofia – referentes ao III Congresso de Filosofia e a I Jornada de Estudos Filosóficos da UERR. Com esta nova edição, a REMGADS e seus colaboradores reforçam no ano de 2017 o empenho em socializar os conhecimentos produzidos pela UERR e por pesquisadores do mundo inteiro, os quais disponibilizam gratuitamente suas pesquisas e seus textos, oferecendo aos leitores e pesquisadores a oportunidade de conhecer temas importantes e atuais no que tange à pesquisa acadêmica, cientifica e filosófica. Para o quadriênio 2013-2016, a revista obteve a seguinte classificação Qualis: B3 em Ensino e Educação; B4 em Interdisciplinar, Administração Pública e de Empresas, Ciências contábeis e Turismo; B5 em Ciências Ambientais, Geociências e Odontologia; C em Ciências da Religião e Teologia, Farmácia, Filosofia, Saúde Coletiva, Geografia e Letras/Linguística.

Equipe editorial da REMGADS

REVISTA ELETRÔNICA AMBIENTE, GESTÃO E DESENVOLVIMENTO.    V.10,
n.01, Jul. 2017, Boa Vista (RR):

UERR, 2017,
Semestral
ISSN ONLINE: 1981-4127

CONSELHO EDITORIAL

Carlos Alberto Borges 
Editor – Chefe remgads@uerr.edu.br

Edgard Vinícius Cacho Zanette 
Editor – Associado Edgardzanette1@gmail.com

Carlos Eduardo Bezerra Rocha Secretário secremgads@uerr.edu.br

UNIVERSIDADE ESTDUAL DE RORAIMA


Sumário

SEÇÃO VARIA

Fatores determinantes da qualidade das águas em dois períodos distintos separados por dez anos sem monitoramento no semiárido brasileiro
Eldir Bandeira da Silva; José Ribeiro de Araújo Neto; Helba Queiroz de Araújo Palácio; Eunice Maia de Andrade.......................................................................................... 05

A utilização do software Solar System Scope e dos mapas conceituais, como recursos pedagógicos na disciplina de Ciências Naturais
Francisca Nilde Gonçalves da Silva; Josias Ferreira da Silva.......................................... 15

Licitação e gestão logística: Uma análise do Programa “Cozinha Social” do Município de Toledo/PR
Elemar Kleber Favreto; Juliana Cristina Sousa da Silva................................................ 36

Uso da borra da purificação de gorduras e óleos residuários em compostagem
Fabiana Abreu de Rezende; Gabriel José de Carvalho; Eric Batista Ferreira; Danieli Lazarini de Barros; Antônio Carlos Fraga............................................................................................ 47
DOSSIÊ - DIREITOS HUMANOS: ESTUDOS CRÍTICOS CONTEMPORÂNEOS
Organizadora: Professora Mestra Ana Paula Joaquim Macêdo - UERR
ARTIGOS
Direitos humanos, memória e educação: linhas para uma proposta de ludopedagogia da convivência
Vanessa Teixeira; André Moreira de Oliveira............................................................... 60

Trabalho escravo e desenvolvimento social: capitalismo, consumismo e violação aos direitos humanos
Gabriela Marques de Campos; Pedro Pulzatto Peruzzo................................................ 85

ENSAIO

A crise e o esgotamento do direito
Pedro Pulzatto Peruzzo......................................................................................... 110

DOSSIÊ – ESTUDOS FILOSÓFICOS DA EAF: III CONGRESSO DE FILOSOFIA E I JORNADA DE ESTUDOS FILOSÓFICOS DA UERR
Organizador: Professor Doutor Edgard Vinicius Cacho Zanette – UERR

Leibniz, os futuros contingentes e a unidade da potência divina
Alfredo Gatto............................................................................................ 127

A desconstrução merleau-pontiana aos “pré-juízos clássicos” e os fundamentos de uma ontologia visual
Adriano Melo Medeiros..................................................................................... 145

O sistema de nominação Wapichana: a fabricação dos corpos e a produção da pessoa
Fabio de Sousa Lima; Olendina de Carvalho Cavalcante............................................. 158

“E agora, José?”: infâmias de um qualquer na cidade
Lázaro Batista; Marina Luiza Guimarães; Aline Cristina Baú....................................... 183

O Zaratustra de Nietzsche: o problema do autor a partir de Foucault e Agamben
Francisco Leidens......................................................................................... 196

É possível ensinar filosofia? Os desafios e as conquistas na escola contemporânea
Pedro Henrique Ciucci da Silva.................................................................................... 208
Eliza Menezes de Lima; Elemar Kleber Favreto........................................................... 214

sábado, 8 de julho de 2017

Lições básicas de como pensar o xadrez e a filosofia em nossas vidas (1)


1. Fazer o simples é, geralmente, melhor

Escolhas complexas geram muitas alternativas imprevisíveis, e, neste sentido, a escolha simples é melhor. Viver o complexo, viver o tumulto das paixões em uma partida de xadrez e na vida, tudo isso é muito prazeroso. Mas grandes enxadristas táticos, como Tal, se observarmos cuidadosamente suas partidas, jogavam de forma simples até o momento perfeito de executar combinações e jogadas astuciosas. 

2. Ter um plano

Tanto na vida quanto no jogo, sem um mapa geral de orientação, vivemos riscos desnecessários e pouca perspectiva de progredir a médio e longo prazo.

3. Saber em qual posição você está no jogo/vida

Há pessoas, tanto no jogo, quanto na vida, que acreditam ser reis e rainhas, quando são, metaforicamente dizendo, peões ou cavalos!
No xadrez, não há lugar para a hipocrisia, mas na vida, nesta a hipocrisia parece reinar!
Neste sentido, o peão pode sim dar check-mate ou transformar-se em qualquer uma das outras peças. Já dizia Philidor que os "peões são a alma do xadrez". É necessário, pois, ter uma humildade virtuosa, como dizia Descartes, e reconhecer a nossa singularidade.


4. Saber o momento de ceder e sacrificar

As coisas não acontecem como gostaríamos!
Como é ruim quando descobrimos que estamos quase perdidos, ou em posição muito inferior!
 A sorte e o oponente, tudo isso faz com que sigamos por caminhos desagradáveis. Ocorre que o xadrez nos ensina a avaliar o contexto geral e nos orienta a ceder, seja espaço ou peças, de forma a reconhecer uma derrota parcial, aspirando uma vitória futura, ou, ao menos, nos preparando para futuras vitórias.

5. Saber o momento de marcar posição/combater

Nas relações interpessoais, como no xadrez, só devemos ceder quando temos que ceder!
Marcar posição é fundamental!
Como diz um amigo: "bonzinho só se fode!"

Há uma luta contínua por poder, um pouco no sentido nietzschiano da palavra. Ora, para haver equilíbrio em nosso jogo/vida, é fundamental ter calma, mas, ainda assim, mostrar que é necessário que o(s) outro(s) nos respeite. Como bem dizia Maquiavel, na política, nem sempre o amor nos leva para a ordem e a felicidade. Ao contrário, muitas vezes, é o amor pelas nossas paixões e emoções que nos cega e leva-nos para o abismo.

Então, por vezes, talvez a máxima de que é melhor ser temido do que amado pode nos ajudar! 
O mesmo ocorre no tabuleiro e na vida.

Se todas as vezes que um amigo/esposa/chefe se impõe de forma desagradável e/ou sem respeito, se sempre aceitarmos sem diálogo, sem marcar posição, estamos ferrados!

Pensemos, pois: 
Em uma relação de amizade/amor/trabalho, se você sempre ceder vão "cagar na sua cabeça"!

Mais uma vez, pensemos à la Maquiavel, que no jogo e na vida, é necessário ser tanto leão quanto raposa: 

A raposa conhece as armadilhas, mas não se defende dos lobos. 

O leão assusta os lobos, mas não se defende das armadilhas.


quarta-feira, 21 de junho de 2017

MINICURSO: A teoria das verdades eternas como possível paradigma para interpretar a filosofia moderna


https://filosofiadaufu.wordpress.com/2017/06/13/minicurso-a-teoria-das-verdades-eternas-como-possivel-paradigma-para-interpretar-a-filosofia-moderna/

terça-feira, 20 de junho de 2017

segunda-feira, 29 de maio de 2017

Introdução ao pensamento filosófico: O homem é o lobo do homem - Egoísmo e sociabilidade em T. Hobbes




Thomas Hobbes (1588-1679) considerava que os homens são naturalmente egoístas.



Os seres humanos não são seres gregários por natureza, tal como concebia Aristóteles. 



Ao contrário, em sua obra Leviatã (1651), diz Hobbes que sentimos extremo desprazer em estarmos em companhia uns dos outros e que, na verdade, preferiríamos viver isolados.



Nesta estranha relação de estarmos unidos em grupos, quando não queremos estar. Cada um fica esperando ser considerando digno de respeito e consideração, e permanece tão preso a esperar lisonjas e glórias que surge o perigo de que todos se destruam uns aos outros. 


Dentro desta situação apresentada a discórdia humana emerge de três causas fundamentais:


1) a competição;


2) a desconfiança;


3) a glória.


Na primeira, um ataca o outro com vistas ao lucro. Na segunda, por querer ter segurança. Na terceira, por reputação.


É dentro deste horizonte de compreensão do humano, “ser egoísta” não se refere a um ato voluntário de irracionalidade ou maldade. Mas, ao contrário, o fato de “ser egoísta” caracteriza essa necessidade intrínseca de uma natureza que lutar incessantemente por adquirir tudo o que lhe apraz, sendo esta característica, em várias circunstâncias, uma qualidade de suma importância à manutenção da vida.


Cada homem sempre quer se expandir, adquirindo mais e mais força, mais poder. Disto resulta que no “estado de natureza” (EN), inicialmente, existe dois tipos fundamentais de homens:



1º Os que não se saciam em ter segurança. (Imoderados)




2º Os que se saciam mantendo-se sob reduzidos limites. (Moderados)



Hobbes faz um jogo conceitual interessante ligando estas duas concepções a uma questão comum, no caso, a necessidade dos homens em fazer tudo o possível para manterem suas vidas.




A conseqüência é que os dois tipos de homens no “Estado de Natureza” (EN) agem como imoderados, pois, tendo que antecipar os ataques uns dos outros para garantir suas vidas, todos são latentes inimigos em potencial.



Na concepção hobesiana de (EN) todos os interesses estão em contínuo choque. E, neste caos de vontades que lutam umas contra as outras para se firmar, não existem regras universais coativas, pois falta a todos um legislador comum.




Para se garantir existente cada homem deve, necessariamente, eliminar ou subjugar o outro. Isto porque não existia lei ou propriedade no (EN). De outra parte, há o constante temor da morte.



No interior deste contexto Hobbes pensava que havia uma certa igualdade entre os homens. Já que o mais fraco de corpo pode vencer o mais forte, ou por astúcia, ou mesmo se unindo a outros homens, ocultando essa biológica desigualdade que existe.



Ainda há outro fator que legitima essa concepção de que no (EN) os homens estão em igualdade. Diz Hobbes que se essa desigualdade fosse absoluta e impassível, o mais fraco, receando perder sua vida, reconheceria a superioridade do mais forte. Então, ele aceita submeter-se às determinações do último para ao menos continuar vivo. Nesta situação, nada pode acontecer senão duas coisas:



1ª Os homens continuam se digladiando continuamente, colocando tanto a espécie como também suas vidas individuais em risco;



2ª Os homens não permitem esse risco de auto supressão, fazendo com que esse egoísmo natural se torne um egoísmo disciplinado por um órgão exterior que obrigue a todos a cumprirem seus pactos.



Para Hobbes a saída do (EN) para a “sociedade civil” (SC) emerge da necessidade natural em manter-se vivo, evitando, assim, a morte violenta.


Esse cálculo racional é efeito da astúcia.





A prudência parece ser o resultado da astúcia. Quem não é astuto, não percebendo a contingência de ter o outro como inimigo no (EN) termina por ser uma preza fácil de ser usada e arrebatada.




“O homem é o lobo do homem”.


Mas cada lobo não pode ser o lobo de si mesmo. Isso contraria a busca pela vida!



Essa luta perpétua e universalmente espalhada, no (EN,) é, ao mesmo tempo, o máximo de liberdade e o máximo de ausência de liberdade.


Essa contradição ocorre pelo seguinte: Posso fazer tudo o que me agrada, mas o outro também. Cedo ou tarde, de um modo ou de outro, nossos interesses irão colidir, o que levará, necessariamente, à discórdia.



Essa liberdade absoluta deságua em uma constante e absoluta luta comum. O resultado de tal processo é que tanto o homem que quer ficar tranquilo, gozando de uma vida sossegada, quanto àquele que quer sangue, discórdia e lutas, todos eles são o inferno uns dos outros.




Nesta relação é muito difícil haver um entendimento mútuo entre todos quando não há um agente imparcial capaz de gerir as determinações estipuladas com vistas ao bem comum.



Para Hobbes todo pacto precisa de coação externa para ser validado. Sem a força ninguém se obrigaria a fazer aquilo que lhe é exteriormente imposto. Por isso que poder e sociedade nascem juntos.



Esse poder absoluto que é transferido ao governante tem de ser absoluto para tornar possível a superação da condição de guerra reinante no (EN). Isto porque não há alternativa alguma para assegurar ordem e segurança, havendo o constante e iminente perigo de morte violenta.


Hobbes desmonta a concepção tradicional de que os homens livres são bons e estão “por natureza” na comunidade para gozarem de sua condição privilegiada.


É interessante que na visão hobesiana do surgimento do estado é pela liberdade que o estado de discórdia se mantém. Pois, se os mais fracos tivessem plena consciência de sua inferioridade, da inconseqüência de lutarem, da impossibilidade de vencerem os mais fortes, eles imediatamente se submeteriam aos fortes salvaguardando suas vidas, ainda que vivessem até o fim de suas vidas como escravos.


Com o pacto feito e a (SC) constituída, a razão maior que leva um súdito a obedecer ao soberano é a de instaurar a paz impedindo a morte violenta de todos. Por outro lado, se o governante não for capaz de realizar sua contrapartida do pacto, não há motivo racional para qualquer homem que seja abdicar de seu direito de lutar por desfrutar de todas as coisas. Justamente por isso que ainda que o pacto transfira ao soberano poder ilimitado e o direito de subjugar a todos, isso não tira de cada um o direito de defender sua própria vida.


Se o soberano for mau administrador, sendo imprudente na condução do estado, incosenqüente nos impostos, aplicando castigos e usurpando os bens dos súditos, logo trará a discórdia no estado incitando a todos a se rebelarem em busca de justiça. Ademais, o soberano não pode exigir que um súdito se mate ou se fira, pois, ainda que no estado civil todos acordaram pelo pacto que devem aceitar as determinações do soberano, ainda assim, cada um permanece tendo que cuidar de si mesmo, não devendo não lutar para manter-se vivo.




Na visão de Hobbes o estado é uma criação dos homens que ganha vida e autonomia própria para aplicar poder coativo. O estado é absoluto e indivisível. 

De certa forma, o estado não deixa de ser um ente metafísico, simbólico, pois todos temos que internalizar a coação exterior exercida pelo estado como necessária, mesmo que não haja realmente em todos os instantes um poder coativo real por perto.



Vemos que essa característica coativa do estado pensado por Hobbes já antecipa certas teses acerca da punição, às quais, mais tarde, Foucault apresentaria em “Vigiar e Punir”. 

Para Hobbes a força, a ordem, a justiça, a reparação dos danos, a punição, são instrumentos utilizados pelo soberano para continuar firmando os cumprimentos dos pactos.


Na medida em que seguir a lei se dá quando cumprimos os pactos. Ainda que seja assim, de fato, se formos comparar as duas condições de existência pensadas por Hobbes, uma no (EN) e outra na (SC), vemos que a condição humana de absoluta liberdade é ainda mais miserável que sua atual condição de ter que prestar obediência a um soberano.




Quando o soberano impõe leis, todo homem com o mínimo de bom senso pode fazer o melhor possível para melhor viver em paz se adequando às determinações da lei, já que o soberano e as leis têm a obrigação de oferecer segurança a todos. 

Por isso que, quando um homem não quer aceitar tais determinações e é justo que ele as aceite, ele nega tanto o pacto feito com o estado e a si mesmo.


BIBLIOGRAFIA BÁSICA

HOBBES, Thomas. Leviatã. Tradução: João Monteiro e Beatriz Nizza da silva. São Paulo: Abril Cultural. 1974. (Coleção Os pensadores)

Autor: Edgard V. C. Zanette - Utilização exclusiva para leitura e estudos, sendo proibida a utilização e divulgação.


A imagem utilizada é pública e gratuita: https://pixabay.com/pt/lobo-lobos-lobo-da-neve-paisagem-1341881/

quinta-feira, 18 de maio de 2017

A ciência não pensa: o problema da técnica em Heidegger


O problema da técnica aparece em certo momento da modernidade, na medida em que há uma interrogação sobre o estatuto epistemológico e ontológico da técnica. Primeiramente há que considerar que a técnica não é um lugar, visto que não podemos apontá-la de modo claro. O campo do técnico não encontra um lugar próprio, a técnica é totalizante. A técnica é a produção humana de artefatos exteriores ao homem que visam uma certa efetividade na constituição de um fim. Já a tecnologia difere da técnica. A tecnologia parte dos dispositivos científicos. É um fazer mais complexo e que se aplica a um campo determinado, com projetos e cálculos próprios da prática científica.
Pensando a questão da técnica Heidegger coloca a seguinte questão: Qual é hoje (século XX) o aparecimento do outro, da diferença com relação a técnica? Infelizmente, Heidegger constata a impossibilidade de apresentar um outro, um grande outro que se oponha ontologicamente ao império do técnico. Pensando sobre o desenvolvimento da técnica, torna-se latente uma contradição apresentada por Heidegger. A técnica se manifesta de forma peculiar na modernidade, mas nessa passagem não há uma simples evolução.

Na modernidade a técnica não permite o aparecimento do absolutamente outro. Isso é complicado, considerando que o outro sempre existiu. A importância do outro é fundamental, pois ele impõe um limite. Ao ficarmos sem o outro com o advento da modernidade, é difícil encontrar um campo fenomênico onde a técnica não impera.

O problema da técnica surge assim como um problema central a ser superado pelo pensamento heideggeriano.
O problema da diferença mostra-se nessa impossibilidade de pensar o diferente como limite. Aqui voltamos à questão husserliana: Como é possível o aparecimento do fenômeno? Dizendo de outro modo, qual o estatuto da consciência intencional? 

O projeto heideggeriano abre uma analítica existencial a partir do ente privilegiado que abre mundo e sentido, o dasein. Diferindo nesse ponto de Husserl, Heidegger preocupou-se em determinar o aparecimento do fenômeno sem afirmar um eu em que a transcendentalidade possa operar em um aparato categorial.

Ortega e Gasset, retomando esse projeto heideggeriano, procurou pensar o eu que não é a consciência e nem o mundo, mas haveria uma outra instância, uma coabertura em que pensa-se um singular absoluto, sem um aparato categorial, em que emerge uma abertura sem um mundo empírico absolutamente determinado, mas que mesmo assim se abre a esse singular. Esse conceito de singularidade é fundamental a essa retomada de Ortega e Gasset.

Heidegger pensa que não cabe em sua investigação uma definição  em termos genéricos, como geralmente a tradição o fez, desse ente que nós somos. O que há é a pura produção do mundo. 

Para indagar acerca do que seja essa pura produção do mundo, Heidegger questiona quais são as circunstâncias que a técnica promove. Neste sentido, a técnica permite ainda uma dinâmica fenomenológica de abertura? Essa questão volta-se ao problema da morte heideggeriano, na pergunta sobre o porque se preferir viver a deixar de ser? Só há esse tipo de questionamento porque o homem não é uma sofisticação do animal, com seus instintos desenvolvidos. Essa explicação que apelava ao instinto falhou e deixou uma lacuna a ser superada. O homem vive por escolha, porque escolheu, não por natureza, por instinto. Mas se o homem escolhe viver, porquê? Por quê querer estar no mundo?

O conceito de vida, dessa vontade de viver, não é um ato biológico e necessário. E mesmo se voltarmos à questão das necessidades materiais, mesmo na busca por satisfazê-las o homem procura não somente realizá-las, mas também suprimir o tempo em que elas acontecem. 

Como viver não é um ato involuntário e automático de nossa natureza, o homem decide autocriticamente viver. Mas esta escolha implica em uma difícil possibilidade, a possibilidade da morte. A possibilidade da morte é a angústia de estar consciente da auto-supressão. E esta questão é a mesma que o problema acerca do estatuto do ente, pois porque existe o ente e não antes o nada?, questiona-se Heidegger. Essa questão Heidegger retoma dos gregos, postulando a possibilidade do negativo e da nadificação. 

O nada não é o nada absolutum, mas é a a diferença que não é ente em hipótese alguma. Essa diferença que não é ente em hipótese alguma. Essa diferença entre o nada não é substancial, somente o ente é substancial. Para Heidegger o nada é aquilo que em hipótese alguma pode ser ente.

A natureza (physis) é a circunstância, o que circunscreve o homem. Há uma união originária entre ambos, o que não ocorre com a técnica, pois a técnica não é natural.  A produção da técnica não serve para satisfazer as necessidade, pelo contrário. O impulso originário de satisfazer suas necessidades foi suprimido pela técnica. 

Os animais não podem desalojar-se de seus instintos naturais. Essa coisa que é o homem, por sua vez inventa e executa coisas extranaturais consigo mesmo e com tudo aquilo que lhe circunscreve. A técnica modifica, desse modo a relação do estar-aí no mundo. Aqui temos o problema do estatuto da existência da modificação do homem em estar no mundo. Sob este aspecto basta lembrarmos o mito de Prometeu, que toca na questão da condenação do humano por ter desafiado a ordem imposta pelos deuses.

Assim como prometeu tentara deslocar a ordem natural, a técnica também é uma deslocação, uma reforma da natureza humana que é contrária à adaptação humana ao meio. Sobre esse aspecto da técnica, Ortega afirma que o homem é uma animal no qual só o supérfluo é necessário. 

Quem coloca essa necessidade do supérfluo é a técnica. Mas esse necessário é a negação do originariamente necessário. Isso apresenta-se muito claramente na busca contínua pela economia do esforço e pela supressão do tempo. Com essa deslocação da técnica aquilo que era uma imposição da natureza, a satisfação de necessidades, torna-se uma inversão, pois o homem impõe à natureza uma sobrenatureza, anulando a angústia originária, modificando ontologicamente o estar-aí no mundo.

A técnica na modernidade é um desabrigar. É uma exploração que impõe à natureza a pretensão de fornecer energia. 

A técnica intima a natureza a extrair a seus serviço todas as potencialidades armazenáveis de cada ente. O que é interpelado deve fornecer tudo o que é requerido. Esse a-disposição  pauta-se no controle e na segurança que constituem-se as marcas fundamentais do desenvolvimento explorador. 

O técnico, nas palavras de Heidegger, “desafia o próprio ente a estar sempre disponível”. Lidar ontologicamente com a técnica é recolocar o próprio modo de compreender a essência.
Em busca de se pensar a técnica ontologicamente o que está em jogo é a determinação do próprio movimento reflexivo da filosofia. Neste sentido, Heidegger retorna a essa tradição que o antecedeu. Investigando o movimento reflexivo da modernidade, Heidegger constatou que Kant em sua busca por superar o dogmatismo metafísico da modernidade, teria criticado a concepção cartesiana de tempo. 

Diz Kant: por que o cogito é presente e não devir? Por que o cogito não é uma apercepção transcendental fundante? Hegel por sua vez, teria retomado os projetos cartesiano e kantino, afirmando que mesmo kant tendo nos mostrado o mar, sua superação de Descartes não chegou a bom termo, pois não teria conseguido nos molhar. Desse modo, Kant apontou o âmbito do impensado mas não teve a coragem de invadi-lo e Hegel fechou o seu sistema com um télos absolutamente problemático. Contudo, no interior destes embates, há uma outra objeção a kant que determinou o discurso filosófico dos séculos XIX e XX. 

Heidegger se volta, sobretudo, a essa questão, a saber: seria válida a supressão da Metafísica feita  por Kant?

Em busca de se pensar a técnica ontologicamente o que está em jogo é a determinação do próprio movimento reflexivo da filosofia. 

Com a técnica a impugnação kantiana deixa de ser absoluta e torna-se necessário retornar às questões ontológicas. Deve haver outro caminho, pois se não pode apresentar-se um pensamento do fundamento infundado, caímos na técnica. E mesmo quando nos voltamos para as estruturas que tornam acessível aos outros entes aquilo sobre o que se discorre, que é a linguagem, o discurso apofântico,  a questão da técnica põe em xeque até mesmo essa estrutura.

Com o declínio do idealismo alemão, o discurso positivista dominou a  segunda metade do século XIX. Mas esse domínio não se dá por completo, considerando que o discurso positivista não supera o metafísico, mas se sobrepõe ao mesmo. 

Ao pressupor a subjetivação do mundo, o discurso positivista acredita cegamente em uma evolução do pensamento que se expressaria na ciência. Mas se de um lado, não é mais possível aceitar as figuras clássicas fundantes. De outro lado, a ciência positiva não é suficiente para se sair desse impasse. Heidegger procura, desse modo, pensar o estatuto do existente sem cair no dogmatismo metafísico. Para tanto, é preciso pensar o estatuto da técnica ontologicamente, pois pensá-la epistemologicamente é estar no âmago da ciência positiva. 

O problema da epistemologia é que ela se mantém como um meta-relato. Ela não é ciência mas diz o que é ciência. A epistemologia define o que é cientificidade e estabelece um critério de verdade para ciência de fora da mesma.

Já na pós-modernidade não haveria mais espaço para grandes relatos metafísicos entorno da fundamentação do conhecimento. Há novos tipos de produção de saber, múltiplos e dispersos. Contudo, essa condição da pós-modernidade define o saber de uma maneira não menos problemática que suas antecedentes, pois hoje ser é ser transmitido

Por ser transmissível, há a proliferação de sentido como pura circulação, como circulação contínua, como flexibilização contínua. A técnica seria uma produção do homem, na medida em que é impossível separar o humano de suas ferramentas materiais. Há uma dimensão na qual homem, o simbólico e os instrumentos materiais são unidos, visto que os atores humanos, em seus mais diversos papéis, interpretam e refazem as técnicas. Mas se a técnica possui esse aspecto determinante ao homem, cabe perguntar: se a técnica é fundamental para o aparecimento ou se ela é apenas privilegiada?

Se pensar o devir é pensar a técnica, como afirma Heidegger, uma sociedade permanece condicionada a esse condicionamento que a técnica lhe impõe. A técnica condiciona, mas por outro lado, estranhamente ela abre possibilidades, ao condicionar exemplos de novos fenômenos. 

O homem, neste caso, produz coisas que por sua vez modificam e produzem diferentemente o próprio homem. Por vezes ocorre a complexa situação em que as próprias técnicas por si mesmas se impõem independentemente da própria racionalidade humana. A técnica não segue a racionalidade. Por essa fluidez, as técnicas são desprovidas de qualquer essência estável.

Heidegger considera que podemos interrogar ontologicamente o Ser perguntando: Ser é ser transmitido tecnicamente? Não há espaço para um método epistemológico clássico a ser rigorosamente seguido, como ocorre em Descartes, por exemplo. Há um instrumental ontológico sem voltar à ontologia clássica. Os positivistas pegam Kant para afirmar: devemos abandonar completamente a metafísica. Entender Kant como uma teoria do conhecimento é um dispositivo central da tese positivista. Neste caso podemos indagar: há ontologia ou epistemologia em Kant? 

Heidegger afirma que Kant expõem uma ontologia, o que levou ao seu fervoroso debate com Cassirer, defensor da tese oposta. Assim , para Heidegger pensar uma ontologia fundamental é superar a metafísica dogmática  que se centra na busca pelo fundamento infundado. O projeto heideggeriano é o de uma ontologia da diferença e do devir.

No questionamento Heideggeriano sobre qual o sentido do mundo? Saber o que é o ser é interrogar pelo estatuto do existente. Mas como é possível que o existente tenha sentido mesmo antes de sabermos como esse existente funciona? 

Para Heidegger o problema da metafísica é o problema do esquecimento do ser. A metafísica voltou-se exclusivamente ao próprio ente e não para o ser. Nesse sentido, desde Platão a história da filosofia é a história do esquecimento do ser. Como ente é tudo aquilo que presentifica, o território do ente é qualquer campo fenomênico possível, pois tudo é ente e fora dele não há mais nada. Tudo que de algum modo é, que se apresenta a essa coisa que sou, é ente. Há o puro aparecer, como uma pura explosão de ente. O nada é a diferença pura. Cada presentificação do ente oculta o nada que permite esse aparecer. Essa manifestação é linguagem, pela linguagem o sentido se abre enquanto presença do ente. “A linguagem é a morada do ser”.

O presentificar-se do ente acontece, é a abertura onde a presença se dá, essa abertura é o Dasein. Aqui a pergunta grega feita pela filosofia de Heráclito é retomada: Por que existe o ente e não antes o nada? A verdade originária do ente é o próprio espaço originário no qual o ente se dá, é o desvelar do ser, (alétheia). A  alétheia não é adequação, como a adequação era compreendida na modernidade. Heidegger desenvolve o modo epocal de indagar acerca do ser, em “Ser e Tempo” Heidegger defende que ser é tempo. Mas se fora do ente há o nada, pressupõe-se um nada do ente: “o ser é o nada do ente”. 

Este nada não é negatividade e carência, não é um nihil negativum. Essa é uma diferença ontológica que não é substancial. Há uma distinção, neste caso, entre o ôntico e  o ontológico. Ôntico se remete ao ente, enquanto coisa. Ontológico se remete ao ser, enquanto sentido da coisa. Perguntar ontologicamente acerca do ser é construir o percurso da historicidade do ser, mas não de sua historiografia. Nessa reconstrução o ser se oculta desvelando o ente hoje a partir de um modo de ser técnico. Não há ente hoje que não seja técnico.

A técnica não é um fenômeno circunscrito, o problema da técnica é a procura pela total determinação das coisas. De um lado, essa procura se liga à analítica existencial, ao modo do Dasein viver um acontecimento. De outro lado, discute-se a própria mobilização total de radiações que podem abarcar tudo.

 Esse reconhecimento da capacidade totalizante da técnica apela à necessidade de pensar a técnica como manifestação epocal. Por conseguinte, pensar a técnica é pensá-la em seu acontecimento epocal. Para Heidegger o modo de ser do homem se dá em sua historicidade e não em uma antropologia filosófica.

Ser é um acontecer. Ser é o sentido do mundo, horizonte hermenêutico do aparecimento do ente. É o modo próprio como objetos dispersos se tornam mundo. Mas a dinâmica da manifestação epocal do ser não responde senão a uma análise prévia. Não há télos,  tampouco eterno retorno. É algo trágico. Pois não há como preparar-se para o que virá, isso é destino. Destino é no sentido de uma composição singular. Não podemos ser livres no sentido pleno do termo. 

A própria possibilidade da liberdade é aberta pelo destino. Esse conceito tão controverso é desenvolvido por Heidegger com o intuito de eliminar dispositivos mecânicos que guiariam o aparecimento. Apesar deste aspecto trágico e singular do pensamento heideggeriano, por outro lado, há sentido no mundo, e aqui no âmago desta abertura somos livres. Neste âmbito somos livres porquê o mundo se compõe de singulares infinitos, não há como determinar a priori o que é o ser. Somos criados no próprio acontecer do existente, nós não fazemos o mundo, o mundo nos faz.

Ser livre é entender o acontecer do mundo em sua totalidade, que enquanto totalidade é a totalidade de todo e qualquer sentido. Por isso que se fala no pensamento heideggeriano em uma compreensão pré-ontológica, justamente porquê o sentido dessa questão originária já está dado previamente. E não somente neste caso, mas para qualquer questão que possamos colocar, antes se considera que há mundo

Essa primazia do sentido do mundo explica porque Heidegger considera que epistemologia e moralidade são perspectivas filosóficas secundárias, na medida em que elas já fazem parte de um mundo, pois o sentido do campo de sentido dos objetos é um problema ontológico.

A técnica não é a mesma coisa que a essência da técnica. A técnica é uma instalação, um instrumentum. Por um lado, a técnica é um meio para fins. Por outro lado, a técnica é um fazer do homem. Enquanto considerada como essa instalação, o que permite ontologicamente que ela se manifeste assim? Se tudo é organizado sob o modo de aparecimento do técnico, a própria  explicação de como o mundo faz sentido se remete à totalidade técnica.

A procura por pensar a essência da técnica e não sua condição de possibilidade. Heidegger não quer recair na questão da subjetividade. Pensar a  essência  da técnica é compreender que o ente está absolutamente reconhecível, o ente está cada vez mais exposto e quantificado. A técnica é algo mais que um simples aparecimento. O ente está aí à disposição do técnico, é um estar aí útil à mão. Há o domínio global da técnica. Por essa característica global a técnica se constitui numa forma de produção de verdade. “A ciência não pensa”, ela não faz uma interrogação originária de seu próprio sentido. 

A técnica é um modo de aparecimento da verdade da época, o mundo desaparece no técnico. A disponibilidade total é o que constitui a técnica, pois nunca antes um modo de aparecimento havia sido tão dominante, impondo o seu modo de disposição ao próprio ente que abre mundo. É onde o esquecimento do ser implica o maior grau de ocultamento do ser.

Heidegger discutindo com a tradição remonta à noção de causalidade em Aristóteles e pergunta-se: Por que as quatro causas aristotélicas possuem um caráter unitário? Criticando a concepção aristotélica Heidegger mostra que  a causa é o que compromete à uma outra coisa. É o comprometimento enquanto o ser-com, um aparecer conjuntamente. Esse conceito heideggeriano  não seria o de causa eficiente ou final que manifesta na mecânica. Pois a causa inicia e não finaliza a coisa. Contudo, ainda não se determinou qual seja o instrumental que reside no causal? 

O ocasionar é o que define a essência no sentido grego. Esse ocasionar remete-se à outros conceitos retomados dos gregos por Heidegger que são fundamentais à sua explicação. Os principais conceitos são o de apofainestai (trazer à luz), lógos  (recolher com sentido), poinsis (aparecer, no sentido de produzir) physis (o que a partir de si emerge) e alétheia (veritas, verdade como adequação). Todos esses conceitos retomados por Heidegger indicam que o problema da produção, do aparecimento da técnica não é factual, se torna factual, mas é originariamente ontológico. Esse ocasionar é o que leva à luz ao que se apresenta. Mas com o advento do técnico o aparecer é uma pura produção instrumental.  

A técnica é um modo de desabrigar, onde acontece a aletheia. Esse modo de desabrigar armazena como fonte de energia o próprio ente. O ente torna-se um depósito de energia. A consequência é que esta disponibilidade faz aparecer somente o ente, já o ser está completamente esquecido.

O ente, qualquer que seja, está aí disponível como fonte de energia ou de manuseio. Está a serviço da técnica e de suas trocas. A técnica não deixa fendas possíveis, não é possível estar fora da técnica. Mas como dar um passo reflexionante a mais que a dominação global da técnica? O pensamento em geral se encontra sob o domínio da técnica. Como o técnico manifesta-se de forma pouco ortodoxa, só é possível operar uma investigação ontológica sobre a técnica de forma distinta dos moldes tradicionais. 

Mas  ainda há espaço para pensar fora da técnica se tudo é atravessado pelo técnico? Heidegger responde que sim, o poetar é um questionar originário que pode não seguir o domínio da técnica.

A a arte é aquilo que faz criar mundo, dá sentido para a existência. Um modo breve e singular que abre sentido, e desse modo, rompe estruturas de ocultamento do ser. Heidegger invoca a arte para poder pensar a técnica para poder pensar a técnica, de um modo que não seja técnico. Sendo assim, a arte, como poetar, possui o privilégio do próprio pensar.


Referências Bibliográficas:

Heidegger, Martin. Ensaios e conferências. Tradução: Emmanuel Carneiro Leão, Gilvan Fogel, Marcia Sá Cavalcante Schuback. 2ª ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2001.


Notas de aulas - Autor: Edgard V. C. Zanette - Uso exclusivo para leitura e estudos.

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