O problema da técnica aparece em
certo momento da modernidade, na medida em que há uma interrogação sobre o
estatuto epistemológico e ontológico da técnica. Primeiramente há que
considerar que a técnica não é um lugar, visto que não podemos apontá-la de
modo claro. O campo do técnico não encontra um lugar próprio, a técnica é
totalizante. A técnica é a produção humana de artefatos exteriores ao homem que
visam uma certa efetividade na constituição de um fim. Já a tecnologia difere
da técnica. A tecnologia parte dos dispositivos científicos. É um fazer mais
complexo e que se aplica a um campo determinado, com projetos e cálculos
próprios da prática científica.
Pensando a questão da técnica
Heidegger coloca a seguinte questão: Qual é hoje (século XX) o aparecimento do
outro, da diferença com relação a técnica? Infelizmente, Heidegger constata a
impossibilidade de apresentar um outro, um grande outro que se oponha
ontologicamente ao império do técnico. Pensando sobre o desenvolvimento da
técnica, torna-se latente uma contradição apresentada por Heidegger. A técnica
se manifesta de forma peculiar na modernidade, mas nessa passagem não há uma
simples evolução.
Na modernidade a técnica não permite o aparecimento do
absolutamente outro. Isso é complicado, considerando que o outro sempre
existiu. A importância do outro é fundamental, pois ele impõe um limite. Ao
ficarmos sem o outro com o advento da modernidade, é difícil encontrar um campo
fenomênico onde a técnica não impera.
O problema da técnica surge assim como um
problema central a ser superado pelo pensamento heideggeriano.
O problema da diferença mostra-se nessa impossibilidade de
pensar o diferente como limite. Aqui voltamos à questão husserliana: Como é
possível o aparecimento do fenômeno? Dizendo de outro modo, qual o estatuto da
consciência intencional?
O projeto heideggeriano abre uma analítica existencial
a partir do ente privilegiado que abre mundo e sentido, o dasein.
Diferindo nesse ponto de Husserl, Heidegger preocupou-se em determinar o
aparecimento do fenômeno sem afirmar um eu em que a transcendentalidade possa
operar em um aparato categorial.
Ortega e Gasset, retomando esse projeto
heideggeriano, procurou pensar o eu que não é a consciência e nem o mundo, mas
haveria uma outra instância, uma coabertura em que pensa-se um singular
absoluto, sem um aparato categorial, em que emerge uma abertura sem um mundo
empírico absolutamente determinado, mas que mesmo assim se abre a esse
singular. Esse conceito de singularidade é fundamental a essa retomada de
Ortega e Gasset.
Heidegger pensa que não cabe em sua investigação uma
definição em termos genéricos, como
geralmente a tradição o fez, desse ente que nós somos. O que há é a pura
produção do mundo.
Para indagar acerca do que seja essa pura produção do mundo,
Heidegger questiona quais são as circunstâncias que a técnica promove. Neste
sentido, a técnica permite ainda uma dinâmica fenomenológica de abertura? Essa
questão volta-se ao problema da morte heideggeriano, na pergunta sobre o porque
se preferir viver a deixar de ser? Só há esse tipo de questionamento porque
o homem não é uma sofisticação do animal, com seus instintos desenvolvidos.
Essa explicação que apelava ao instinto falhou e deixou uma lacuna a ser
superada. O homem vive por escolha, porque escolheu, não por natureza, por
instinto. Mas se o homem escolhe viver, porquê? Por quê querer estar no mundo?
O conceito de vida, dessa vontade de viver, não é um ato
biológico e necessário. E mesmo se voltarmos à questão das necessidades
materiais, mesmo na busca por satisfazê-las o homem procura não somente
realizá-las, mas também suprimir o tempo em que elas acontecem.
Como viver não
é um ato involuntário e automático de nossa natureza, o homem decide
autocriticamente viver. Mas esta escolha implica em uma difícil possibilidade,
a possibilidade da morte. A possibilidade da morte é a angústia de estar
consciente da auto-supressão. E esta questão é a mesma que o problema acerca do
estatuto do ente, pois porque existe o ente e não antes o nada?, questiona-se
Heidegger. Essa questão Heidegger retoma dos gregos, postulando a possibilidade
do negativo e da nadificação.
O nada não é o nada absolutum, mas é a a
diferença que não é ente em hipótese alguma. Essa diferença que não é ente em
hipótese alguma. Essa diferença entre o nada não é substancial, somente o ente
é substancial. Para Heidegger o nada é aquilo que em hipótese alguma pode ser
ente.
A natureza (physis) é a circunstância, o que circunscreve
o homem. Há uma união originária entre ambos, o que não ocorre com a técnica,
pois a técnica não é natural. A produção
da técnica não serve para satisfazer as necessidade, pelo contrário. O impulso
originário de satisfazer suas necessidades foi suprimido pela técnica.
Os
animais não podem desalojar-se de seus instintos naturais. Essa coisa que é o
homem, por sua vez inventa e executa coisas extranaturais consigo mesmo e com
tudo aquilo que lhe circunscreve. A técnica modifica, desse modo a relação do
estar-aí no mundo. Aqui temos o problema do estatuto da existência da
modificação do homem em estar no mundo. Sob este aspecto basta lembrarmos o
mito de Prometeu, que toca na questão da condenação do humano por ter desafiado
a ordem imposta pelos deuses.
Assim como prometeu tentara deslocar a ordem natural, a técnica
também é uma deslocação, uma reforma da natureza humana que é contrária à
adaptação humana ao meio. Sobre esse aspecto da técnica, Ortega afirma que o
homem é uma animal no qual só o supérfluo é necessário.
Quem coloca essa
necessidade do supérfluo é a técnica. Mas esse necessário é a negação do
originariamente necessário. Isso apresenta-se muito claramente na busca
contínua pela economia do esforço e pela supressão do tempo. Com essa
deslocação da técnica aquilo que era uma imposição da natureza, a satisfação de
necessidades, torna-se uma inversão, pois o homem impõe à natureza uma
sobrenatureza, anulando a angústia originária, modificando ontologicamente o
estar-aí no mundo.
A técnica na modernidade é um desabrigar. É uma exploração que
impõe à natureza a pretensão de fornecer energia.
A técnica intima a natureza a
extrair a seus serviço todas as potencialidades armazenáveis de cada ente. O
que é interpelado deve fornecer tudo o que é requerido. Esse a-disposição pauta-se no controle e na segurança que
constituem-se as marcas fundamentais do desenvolvimento explorador.
O técnico,
nas palavras de Heidegger, “desafia o próprio ente a estar sempre disponível”.
Lidar ontologicamente com a técnica é recolocar o próprio modo de compreender a
essência.
Em busca de se pensar a técnica ontologicamente o que está em
jogo é a determinação do próprio movimento reflexivo da filosofia. Neste
sentido, Heidegger retorna a essa tradição que o antecedeu. Investigando o
movimento reflexivo da modernidade, Heidegger constatou que Kant em sua busca
por superar o dogmatismo metafísico da modernidade, teria criticado a concepção
cartesiana de tempo.
Diz Kant: por que o cogito é presente e não devir?
Por que o cogito não é uma apercepção transcendental fundante? Hegel por
sua vez, teria retomado os projetos cartesiano e kantino, afirmando que mesmo
kant tendo nos mostrado o mar, sua superação de Descartes não chegou a bom
termo, pois não teria conseguido nos molhar. Desse modo, Kant apontou o âmbito
do impensado mas não teve a coragem de invadi-lo e Hegel fechou o seu sistema
com um télos absolutamente problemático. Contudo, no interior destes
embates, há uma outra objeção a kant que determinou o discurso filosófico dos
séculos XIX e XX.
Heidegger se volta, sobretudo, a essa questão, a saber: seria
válida a supressão da Metafísica feita
por Kant?
Em busca de se pensar a técnica ontologicamente o que está em
jogo é a determinação do próprio movimento reflexivo da filosofia.
Com a
técnica a impugnação kantiana deixa de ser absoluta e torna-se necessário
retornar às questões ontológicas. Deve haver outro caminho, pois se não pode
apresentar-se um pensamento do fundamento infundado, caímos na técnica. E mesmo
quando nos voltamos para as estruturas que tornam acessível aos outros entes
aquilo sobre o que se discorre, que é a linguagem, o discurso apofântico,
a questão da técnica põe em xeque
até mesmo essa estrutura.
Com o declínio do idealismo alemão, o discurso positivista
dominou a segunda metade do século XIX.
Mas esse domínio não se dá por completo, considerando que o discurso
positivista não supera o metafísico, mas se sobrepõe ao mesmo.
Ao pressupor a
subjetivação do mundo, o discurso positivista acredita cegamente em uma
evolução do pensamento que se expressaria na ciência. Mas se de um lado, não é
mais possível aceitar as figuras clássicas fundantes. De outro lado, a ciência
positiva não é suficiente para se sair desse impasse. Heidegger procura, desse
modo, pensar o estatuto do existente sem cair no dogmatismo metafísico. Para
tanto, é preciso pensar o estatuto da técnica ontologicamente, pois pensá-la
epistemologicamente é estar no âmago da ciência positiva.
O problema da
epistemologia é que ela se mantém como um meta-relato. Ela não é ciência
mas diz o que é ciência. A epistemologia define o que é cientificidade e
estabelece um critério de verdade para ciência de fora da mesma.
Já na pós-modernidade não haveria mais espaço para grandes
relatos metafísicos entorno da fundamentação do conhecimento. Há novos tipos de
produção de saber, múltiplos e dispersos. Contudo, essa condição da
pós-modernidade define o saber de uma maneira não menos problemática que suas
antecedentes, pois hoje ser é ser transmitido.
Por ser transmissível, há
a proliferação de sentido como pura circulação, como circulação contínua, como
flexibilização contínua. A técnica seria uma produção do homem, na medida em
que é impossível separar o humano de suas ferramentas materiais. Há uma
dimensão na qual homem, o simbólico e os instrumentos materiais são unidos,
visto que os atores humanos, em seus mais diversos papéis, interpretam e
refazem as técnicas. Mas se a técnica possui esse aspecto determinante ao
homem, cabe perguntar: se a técnica é fundamental para o aparecimento ou se
ela é apenas privilegiada?
Se pensar o devir é pensar a técnica, como afirma Heidegger, uma
sociedade permanece condicionada a esse condicionamento que a técnica lhe
impõe. A técnica condiciona, mas por outro lado, estranhamente ela abre
possibilidades, ao condicionar exemplos de novos fenômenos.
O homem, neste
caso, produz coisas que por sua vez modificam e produzem diferentemente o
próprio homem. Por vezes ocorre a complexa situação em que as próprias técnicas
por si mesmas se impõem independentemente da própria racionalidade humana. A
técnica não segue a racionalidade. Por essa fluidez, as técnicas são
desprovidas de qualquer essência estável.
Heidegger considera que podemos interrogar ontologicamente o Ser
perguntando: Ser é ser transmitido tecnicamente? Não há espaço para um método
epistemológico clássico a ser rigorosamente seguido, como ocorre em Descartes,
por exemplo. Há um instrumental ontológico sem voltar à ontologia clássica. Os
positivistas pegam Kant para afirmar: devemos abandonar completamente a
metafísica. Entender Kant como uma teoria do conhecimento é um dispositivo
central da tese positivista. Neste caso podemos indagar: há ontologia ou
epistemologia em Kant?
Heidegger afirma que Kant expõem uma ontologia, o que
levou ao seu fervoroso debate com Cassirer, defensor da tese oposta. Assim ,
para Heidegger pensar uma ontologia fundamental é superar a metafísica
dogmática que se centra na busca pelo
fundamento infundado. O projeto heideggeriano é o de uma ontologia da diferença
e do devir.
No questionamento Heideggeriano sobre qual o sentido do
mundo? Saber o que é o ser é interrogar pelo estatuto do existente. Mas
como é possível que o existente tenha sentido mesmo antes de sabermos como esse
existente funciona?
Para Heidegger o problema da metafísica é o problema do
esquecimento do ser. A metafísica voltou-se exclusivamente ao próprio ente e
não para o ser. Nesse sentido, desde Platão a história da filosofia é a
história do esquecimento do ser. Como ente é tudo aquilo que presentifica, o
território do ente é qualquer campo fenomênico possível, pois tudo é ente e
fora dele não há mais nada. Tudo que de algum modo é, que se apresenta a essa
coisa que sou, é ente. Há o puro aparecer, como uma pura explosão de ente. O
nada é a diferença pura. Cada presentificação do ente oculta o nada que permite
esse aparecer. Essa manifestação é linguagem, pela linguagem o sentido se abre
enquanto presença do ente. “A linguagem é a morada do ser”.
O presentificar-se do ente acontece, é a abertura onde a
presença se dá, essa abertura é o Dasein. Aqui a pergunta grega feita
pela filosofia de Heráclito é retomada: Por que existe o ente e não antes o
nada? A verdade originária do ente é o próprio espaço originário no qual o
ente se dá, é o desvelar do ser, (alétheia). A alétheia não é adequação, como a
adequação era compreendida na modernidade. Heidegger desenvolve o modo epocal
de indagar acerca do ser, em “Ser e Tempo” Heidegger defende que ser é tempo.
Mas se fora do ente há o nada, pressupõe-se um nada do ente: “o ser é o
nada do ente”.
Este nada não é negatividade e carência, não é um nihil
negativum. Essa é uma diferença ontológica que não é substancial. Há uma
distinção, neste caso, entre o ôntico e
o ontológico. Ôntico se remete ao ente, enquanto coisa. Ontológico se
remete ao ser, enquanto sentido da coisa. Perguntar ontologicamente acerca do
ser é construir o percurso da historicidade do ser, mas não de sua
historiografia. Nessa reconstrução o ser se oculta desvelando o ente hoje a
partir de um modo de ser técnico. Não há ente hoje que não seja técnico.
A técnica não é um fenômeno circunscrito, o problema da técnica
é a procura pela total determinação das coisas. De um lado, essa procura se
liga à analítica existencial, ao modo do Dasein viver um acontecimento.
De outro lado, discute-se a própria mobilização total de radiações que podem
abarcar tudo.
Esse reconhecimento da capacidade totalizante da técnica apela à
necessidade de pensar a técnica como manifestação epocal. Por conseguinte,
pensar a técnica é pensá-la em seu acontecimento epocal. Para Heidegger o modo
de ser do homem se dá em sua historicidade e não em uma antropologia
filosófica.
Ser é um acontecer. Ser é o sentido do mundo, horizonte
hermenêutico do aparecimento do ente. É o modo próprio como objetos dispersos
se tornam mundo. Mas a dinâmica da manifestação epocal do ser não responde
senão a uma análise prévia. Não há télos, tampouco eterno retorno. É algo trágico. Pois
não há como preparar-se para o que virá, isso é destino. Destino é no
sentido de uma composição singular. Não podemos ser livres no sentido pleno do
termo.
A própria possibilidade da liberdade é aberta pelo destino. Esse
conceito tão controverso é desenvolvido por Heidegger com o intuito de eliminar
dispositivos mecânicos que guiariam o aparecimento. Apesar deste aspecto
trágico e singular do pensamento heideggeriano, por outro lado, há sentido no
mundo, e aqui no âmago desta abertura somos livres. Neste âmbito somos livres
porquê o mundo se compõe de singulares infinitos, não há como determinar a
priori o que é o ser. Somos criados no próprio acontecer do existente, nós não
fazemos o mundo, o mundo nos faz.
Ser livre é entender o acontecer do mundo em sua totalidade, que
enquanto totalidade é a totalidade de todo e qualquer sentido. Por isso que se
fala no pensamento heideggeriano em uma compreensão pré-ontológica, justamente
porquê o sentido dessa questão originária já está dado previamente. E não
somente neste caso, mas para qualquer questão que possamos colocar, antes se
considera que há mundo.
Essa primazia do sentido do mundo explica porque
Heidegger considera que epistemologia e moralidade são perspectivas filosóficas
secundárias, na medida em que elas já fazem parte de um mundo, pois o sentido
do campo de sentido dos objetos é um problema ontológico.
A técnica não é a mesma coisa que a essência da técnica. A
técnica é uma instalação, um instrumentum. Por um lado, a técnica é um
meio para fins. Por outro lado, a técnica é um fazer do homem. Enquanto
considerada como essa instalação, o que permite ontologicamente que ela se
manifeste assim? Se tudo é organizado sob o modo de aparecimento do técnico, a
própria explicação de como o mundo faz
sentido se remete à totalidade técnica.
A procura por pensar a essência da técnica e não sua condição de
possibilidade. Heidegger não quer recair na questão da subjetividade. Pensar
a essência da técnica é compreender que o ente está
absolutamente reconhecível, o ente está cada vez mais exposto e quantificado. A
técnica é algo mais que um simples aparecimento. O ente está aí à disposição do
técnico, é um estar aí útil à mão. Há o domínio global da técnica. Por essa
característica global a técnica se constitui numa forma de produção de verdade.
“A ciência não pensa”, ela não faz uma interrogação originária de seu próprio
sentido.
A técnica é um modo de aparecimento da verdade da época, o mundo
desaparece no técnico. A disponibilidade total é o que constitui a técnica,
pois nunca antes um modo de aparecimento havia sido tão dominante, impondo o
seu modo de disposição ao próprio ente que abre mundo. É onde o esquecimento do
ser implica o maior grau de ocultamento do ser.
Heidegger discutindo com a tradição remonta à noção de
causalidade em Aristóteles e pergunta-se: Por que as quatro causas
aristotélicas possuem um caráter unitário? Criticando a concepção aristotélica
Heidegger mostra que a causa é o que
compromete à uma outra coisa. É o comprometimento enquanto o ser-com, um
aparecer conjuntamente. Esse conceito heideggeriano não seria o de causa eficiente ou final que manifesta
na mecânica. Pois a causa inicia e não finaliza a coisa. Contudo, ainda não se
determinou qual seja o instrumental que reside no causal?
O ocasionar
é o que define a essência no sentido grego. Esse ocasionar remete-se à outros
conceitos retomados dos gregos por Heidegger que são fundamentais à sua
explicação. Os principais conceitos são o de apofainestai (trazer à
luz), lógos (recolher com
sentido), poinsis (aparecer, no sentido de produzir) physis (o
que a partir de si emerge) e alétheia (veritas, verdade como adequação).
Todos esses conceitos retomados por Heidegger indicam que o problema da
produção, do aparecimento da técnica não é factual, se torna factual, mas é
originariamente ontológico. Esse ocasionar é o que leva à luz ao que se apresenta.
Mas com o advento do técnico o aparecer é uma pura produção instrumental.
A técnica é um modo de desabrigar, onde
acontece a aletheia. Esse modo de desabrigar armazena como fonte de
energia o próprio ente. O ente torna-se um depósito de energia. A consequência
é que esta disponibilidade faz aparecer somente o ente, já o ser está
completamente esquecido.
O ente, qualquer que seja, está aí disponível como fonte de
energia ou de manuseio. Está a serviço da técnica e de suas trocas. A técnica
não deixa fendas possíveis, não é possível estar fora da técnica. Mas como dar
um passo reflexionante a mais que a dominação global da técnica? O pensamento
em geral se encontra sob o domínio da técnica. Como o técnico manifesta-se de
forma pouco ortodoxa, só é possível operar uma investigação ontológica sobre a
técnica de forma distinta dos moldes tradicionais.
Mas ainda há espaço para pensar fora da técnica
se tudo é atravessado pelo técnico? Heidegger responde que sim, o poetar
é um questionar originário que pode não seguir o domínio da técnica.
A a arte é aquilo que faz criar mundo, dá sentido para a
existência. Um modo breve e singular que abre sentido, e desse modo, rompe
estruturas de ocultamento do ser. Heidegger invoca a arte para poder pensar a
técnica para poder pensar a técnica, de um modo que não seja técnico. Sendo
assim, a arte, como poetar, possui o privilégio do próprio pensar.
Referências
Bibliográficas:
Heidegger,
Martin. Ensaios e conferências. Tradução: Emmanuel Carneiro Leão, Gilvan
Fogel, Marcia Sá Cavalcante Schuback. 2ª ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2001.
Notas de aulas - Autor: Edgard V. C. Zanette - Uso exclusivo para leitura e estudos.
Imagem pública: https://pixabay.com/pt/roda-de-p%C3%A1s-1051962/
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